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terça-feira, 13 de agosto de 2024

"Desafiando o Discurso Autorizado de Patrimônio,"

Laurajane Smith

Tema Central do Texto

O artigo de Laurajane Smith, "Desafiando o Discurso Autorizado de Patrimônio," apresenta uma crítica ao conceito de Discurso Autorizado de Patrimônio (AHD), que, segundo a autora, domina a prática profissional da gestão do patrimônio cultural. O AHD é descrito como um discurso que privilegia entendimentos materialistas e especializados do patrimônio, moldando como ele é percebido, valorizado e gerido por instituições e profissionais. Smith argumenta que esse discurso dominante, enraizado em tradições europeias do século XIX, concentra-se em objetos materiais, sítios e paisagens que são preservados para transmitir valores culturais supostamente inatos às gerações futuras.

A autora defende que o AHD, ao focar em objetos tangíveis e valores especializados, negligencia a importância das práticas culturais e sociais que dão significado ao patrimônio. Smith enfatiza que "todo patrimônio é intangível" e que ele deve ser compreendido como uma prática ou performance, onde os significados culturais e sociais são continuamente negociados e reconstruídos​. O artigo propõe que o patrimônio deve ser uma ferramenta dinâmica para expressar identidades e resolver questões sociais contemporâneas, ao invés de um conjunto estático de objetos materiais.

Principais Teses da Autora

  1. Crítica ao AHD:
    • Smith critica o AHD por seu foco em objetos materiais e pela suposição de que o valor do patrimônio é inato, e não atribuído. Ela menciona que este discurso "desvincula as pessoas de um engajamento ou uso ativo do patrimônio," relegando a experiência humana a um papel secundário​. O AHD, segundo Smith, legitima apenas valores e práticas culturais estabelecidos, frequentemente ignorando narrativas alternativas e marginalizadas.
  2. Patrimônio como Prática Performativa:
    • A autora argumenta que o patrimônio é um "processo de (re)construção cultural e social de valores e sentidos". Ela defende que o patrimônio deve ser visto como uma performance, uma série de ações que incluem lembrar, comemorar e comunicar valores culturais e sociais. Essas performances ajudam a validar a utilidade do passado para o presente e a criar identidades e sentidos de pertencimento ​.
  3. Importância da Inclusão e Diversidade:
    • Smith destaca a necessidade de incluir uma variedade de discursos e perspectivas no campo do patrimônio, afirmando que "nós precisamos escutar e nos vincular a essas experiências e conhecimento diferentes"​. Ela argumenta que o AHD exclui vozes de comunidades e grupos marginalizados, e que a inclusão dessas vozes é crucial para uma prática patrimonial mais equitativa​.
  4. Agência das Pessoas sobre os Objetos:
    • A autora critica a tendência de algumas teorias, como o Novo Materialismo, que atribuem agência aos objetos materiais. Ela argumenta que isso "marginaliza a agência social, humana e pessoal" e ofusca o papel das pessoas na construção do patrimônio. Smith insiste que "as pessoas importam" e que o foco deve estar em como os seres humanos interagem com o patrimônio, não apenas na materialidade dos objetos.

Estrutura Argumentativa da Autora

  1. Introdução e Definição de Patrimônio:
    • Smith começa o artigo introduzindo o conceito de AHD e como ele molda a prática patrimonial global. Ela define patrimônio como "intangible" e argumenta que ele deve ser entendido como uma prática social e cultural, ao invés de uma coleção de objetos materiais​.
  2. História e Crítica ao AHD:
    • A autora fornece um contexto histórico para o desenvolvimento do AHD, destacando sua origem na Europa Ocidental no século XIX, durante a ascensão do nacionalismo e do interesse pela preservação da cultura material​. Ela critica essa abordagem por ignorar o papel das práticas culturais na definição e preservação do patrimônio​
  3. Discussão sobre Patrimônio como Performance:
    • Smith expande sua argumentação ao descrever o patrimônio como uma performance, onde significados e valores culturais são continuamente (re)construídos. Ela utiliza o conceito de "performance" de Judith Butler para ilustrar como o patrimônio é uma prática dinâmica que envolve a construção e expressão de identidades​
  4. Apelo à Diversidade e Inclusão:
    • A autora faz um apelo à inclusão de diversas vozes e narrativas na gestão do patrimônio. Ela argumenta que o AHD falha em representar a diversidade de entendimentos e experiências culturais, e que um discurso mais inclusivo é necessário para refletir a realidade complexa e dinâmica do patrimônio.
  5. Conclusão e Implicações Práticas:
    • Na conclusão, Smith reforça a importância de questionar e desafiar o AHD para promover práticas patrimoniais mais equitativas e reflexivas. Ela enfatiza que o patrimônio deve ser uma ferramenta para o diálogo social e político, contribuindo para um entendimento mais abrangente e inclusivo da herança cultural​.

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