Laurajane Smith
Tema Central do Texto
O artigo de Laurajane Smith,
"Desafiando o Discurso Autorizado de Patrimônio," apresenta uma
crítica ao conceito de Discurso Autorizado de Patrimônio (AHD), que, segundo a
autora, domina a prática profissional da gestão do patrimônio cultural. O AHD é
descrito como um discurso que privilegia entendimentos materialistas e
especializados do patrimônio, moldando como ele é percebido, valorizado e
gerido por instituições e profissionais. Smith argumenta que esse discurso
dominante, enraizado em tradições europeias do século XIX, concentra-se em
objetos materiais, sítios e paisagens que são preservados para transmitir
valores culturais supostamente inatos às gerações futuras.
A autora defende que o AHD, ao focar
em objetos tangíveis e valores especializados, negligencia a importância das
práticas culturais e sociais que dão significado ao patrimônio. Smith enfatiza
que "todo patrimônio é intangível" e que ele deve ser compreendido
como uma prática ou performance, onde os significados culturais e sociais são
continuamente negociados e reconstruídos. O artigo
propõe que o patrimônio deve ser uma ferramenta dinâmica para expressar
identidades e resolver questões sociais contemporâneas, ao invés de um conjunto
estático de objetos materiais.
Principais Teses da
Autora
- Crítica
ao AHD:
- Smith
critica o AHD por seu foco em objetos materiais e pela suposição de que o
valor do patrimônio é inato, e não atribuído. Ela menciona que este
discurso "desvincula as pessoas de um engajamento ou uso ativo do
patrimônio," relegando a experiência humana a um papel
secundário. O AHD, segundo Smith, legitima
apenas valores e práticas culturais estabelecidos, frequentemente
ignorando narrativas alternativas e marginalizadas.
- Patrimônio
como Prática Performativa:
- A
autora argumenta que o patrimônio é um "processo de (re)construção
cultural e social de valores e sentidos".
Ela defende que o patrimônio deve ser visto como uma performance, uma
série de ações que incluem lembrar, comemorar e comunicar valores
culturais e sociais. Essas performances ajudam a validar a utilidade do
passado para o presente e a criar identidades e sentidos de pertencimento
.
- Importância
da Inclusão e Diversidade:
- Smith
destaca a necessidade de incluir uma variedade de discursos e
perspectivas no campo do patrimônio, afirmando que "nós precisamos
escutar e nos vincular a essas experiências e conhecimento
diferentes". Ela argumenta que o AHD
exclui vozes de comunidades e grupos marginalizados, e que a inclusão
dessas vozes é crucial para uma prática patrimonial mais
equitativa.
- Agência
das Pessoas sobre os Objetos:
- A
autora critica a tendência de algumas teorias, como o Novo Materialismo,
que atribuem agência aos objetos materiais. Ela argumenta que isso
"marginaliza a agência social, humana e pessoal" e ofusca o
papel das pessoas na construção do patrimônio. Smith insiste que "as pessoas
importam" e que o foco deve estar em como os seres humanos interagem
com o patrimônio, não apenas na materialidade dos objetos.
Estrutura Argumentativa
da Autora
- Introdução
e Definição de Patrimônio:
- Smith
começa o artigo introduzindo o conceito de AHD e como ele molda a prática
patrimonial global. Ela define patrimônio como "intangible" e
argumenta que ele deve ser entendido como uma prática social e cultural,
ao invés de uma coleção de objetos materiais.
- História
e Crítica ao AHD:
- A autora fornece um contexto histórico para o desenvolvimento do AHD, destacando sua origem na Europa Ocidental no século XIX, durante a ascensão do nacionalismo e do interesse pela preservação da cultura material. Ela critica essa abordagem por ignorar o papel das práticas culturais na definição e preservação do patrimônio
- Discussão
sobre Patrimônio como Performance:
- Smith expande sua argumentação ao descrever o patrimônio como uma performance, onde significados e valores culturais são continuamente (re)construídos. Ela utiliza o conceito de "performance" de Judith Butler para ilustrar como o patrimônio é uma prática dinâmica que envolve a construção e expressão de identidades
- Apelo
à Diversidade e Inclusão:
- A
autora faz um apelo à inclusão de diversas vozes e narrativas na gestão
do patrimônio. Ela argumenta que o AHD falha em representar a diversidade
de entendimentos e experiências culturais, e que um discurso mais
inclusivo é necessário para refletir a realidade complexa e dinâmica do
patrimônio.
- Conclusão
e Implicações Práticas:
- Na
conclusão, Smith reforça a importância de questionar e desafiar o AHD
para promover práticas patrimoniais mais equitativas e reflexivas. Ela
enfatiza que o patrimônio deve ser uma ferramenta para o diálogo social e
político, contribuindo para um entendimento mais abrangente e inclusivo
da herança cultural.
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