Josemeire Alves Pereira
Reflexão Geral e Resumo
do Artigo
O artigo intitulado "A
Eloquência dos Silêncios: Racismo e Produção de Esquecimento sobre a População
Negra em Narrativas de Memória das Cidades", de Josemeire Alves Pereira, é
uma exploração profunda sobre o racismo estrutural e institucionalizado no
Brasil, manifestado por meio do silenciamento histórico da população negra em
narrativas urbanas. A autora concentra-se no caso de Belo Horizonte, uma cidade
planejada no final do século XIX, e analisa como a historiografia dominante
ignora ou minimiza deliberadamente a presença e contribuição da população
negra. Essa negligência, segundo Pereira, não é acidental, mas sim um reflexo
do racismo sistêmico que permeia as estruturas de poder e molda a memória
coletiva.
O artigo inicia com a discussão sobre
a invisibilidade da população negra nas narrativas oficiais de Belo Horizonte,
desafiando a ideia de que a ausência de fontes históricas justifica essa
omissão. A autora critica essa justificativa, sugerindo que a alegação de falta
de fontes é usada como uma estratégia para perpetuar o racismo institucional.
Ela argumenta que há evidências suficientes para refutar essa narrativa e que a
verdadeira questão é o preconceito embutido nas práticas historiográficas e
arquivísticas que escolhem ignorar essas evidências.
Pereira utiliza Belo Horizonte como
um estudo de caso para examinar os mecanismos de apagamento histórico. A
cidade, planejada para ser a nova capital do estado de Minas Gerais, foi
concebida sob os ideais de progresso e modernidade, simbolizando um rompimento
com o passado colonial. No entanto, essa narrativa de modernidade exclui as
contribuições significativas da população negra, que desempenhou um papel
crucial na construção e desenvolvimento da cidade. A autora investiga como as
práticas de remoção de comunidades negras, a desvalorização de suas
contribuições e a destruição de seus patrimônios culturais refletem um padrão
de exclusão que ainda persiste.
Uma parte importante da análise de
Pereira é a crítica ao papel das instituições arquivísticas e museológicas. Ela
discute como essas instituições podem tanto perpetuar quanto desafiar o
apagamento histórico. A autora argumenta que a maneira como as fontes são
catalogadas e acessadas influencia a visibilidade das histórias negras.
Instituições que adotam práticas que desconsideram a diversidade de
experiências históricas contribuem para o contínuo silenciamento. Por outro
lado, quando as instituições se comprometem a revisar suas práticas, elas podem
facilitar a inclusão de narrativas mais diversas e autênticas.
Pereira também aborda a necessidade
de uma revisão crítica das práticas historiográficas para reconhecer e integrar
as contribuições da população negra. Ela defende que essa revisão não só
corrige injustiças históricas, mas também enriquece a compreensão da formação
urbana no Brasil. A autora conclui que a superação do racismo estrutural na
historiografia exige uma abordagem inclusiva que valorize a diversidade e
reconheça as contribuições de todos os grupos sociais. Em suma, o artigo é um
chamado à ação para acadêmicos, arquivistas e curadores de museus reavaliar
suas abordagens e garantir que as vozes silenciadas sejam finalmente ouvidas e
celebradas.
Tema do Artigo
O tema central do artigo é a produção
de silenciamento da população negra nas narrativas históricas e de memória das
cidades brasileiras, com um foco específico em Belo Horizonte. Pereira explora
como o racismo institucionalizado molda essas narrativas, resultando na
invisibilidade das contribuições e presenças negras na formação urbana. Ela
examina os mecanismos que sustentam esse apagamento, como as práticas
arquivísticas e museológicas, e propõe maneiras de superar essas barreiras. A
autora enfatiza a necessidade de reconhecer e integrar as histórias negras nas
narrativas oficiais para construir uma compreensão mais completa e justa da
história das cidades.
Teses Defendidas pelo
Autor
- Racismo
Estrutural nas Narrativas Históricas: Pereira
defende que o racismo é um elemento fundamental nas relações de poder no
Brasil, influenciando a maneira como a história é contada. Essa estrutura
racista resulta na produção de narrativas que silenciam e ignoram a
contribuição da população negra.
- Falácia
da Ausência de Fontes: A autora critica a
justificativa comum de que a ausência de fontes históricas é a razão para
a omissão da população negra na historiografia de Belo Horizonte. Ela
argumenta que essa alegação serve para perpetuar o racismo institucional,
pois as fontes existem, mas são frequentemente ignoradas ou
desvalorizadas.
- Papel
Crucial das Instituições Arquivísticas e Museológicas:
Pereira analisa como essas instituições desempenham um papel significativo
na perpetuação ou superação do apagamento histórico. Ela sugere que
práticas de catalogação e acessibilidade adequadas podem revelar
narrativas silenciadas e promover uma compreensão mais inclusiva da
história urbana.
- Necessidade
de Revisão Crítica nas Práticas Historiográficas:
A autora defende uma reavaliação das práticas historiográficas para
incluir as contribuições da população negra, argumentando que isso é
essencial não apenas para justiça histórica, mas também para uma
compreensão mais rica e diversa da história das cidades brasileiras.
- Integração
da Diversidade nas Narrativas Oficiais: Pereira
enfatiza que reconhecer a diversidade e a contribuição de todos os grupos
sociais é crucial para superar o racismo estrutural e construir uma
narrativa histórica mais autêntica e completa.
Autores Citados e Suas
Contribuições
- Hebe
Mattos (2013): Explora o silenciamento racial nas
fontes demográficas e administrativas do período pós-abolição, destacando
como essas práticas contribuem para o apagamento histórico.
- Angela
da Silva Gomes (2009; 2012): Investiga a
presença afro-diaspórica em práticas culturais e sociais, como terreiros e
quintais, e como essas práticas são formas de resistência e afirmação
identitária.
- Thomas
Holt (1995): Analisa a reprodução do racismo e
da noção de raça na sociabilidade, influenciando as narrativas históricas
e destacando a necessidade de abordagens críticas na historiografia.
- Sueli
Carneiro: Introduz o conceito de
"epistemicídio" para descrever a aniquilação do conhecimento
africano e afrodiaspórico nas narrativas históricas, enfatizando a
necessidade de reconhecimento e valorização dessas contribuições.
- Gayatri
Chakravorty Spivak (2010): Discute a questão
da fala do subalterno, questionando como as narrativas dominantes podem
silenciar vozes marginalizadas e propondo a necessidade de escuta ativa e
inclusiva.
- Nila
Rodrigues Barbosa: Examina a representação de
sujeitos negros no pensamento museal, revelando como as escolhas
museológicas perpetuam narrativas que excluem a diversidade de
experiências sociais.
Estrutura Argumentativa
do Texto
O artigo de Pereira é estruturado de
forma a guiar o leitor através de uma análise crítica e detalhada do
silenciamento histórico da população negra em Belo Horizonte. A introdução
estabelece o problema e o contexto, destacando o racismo estrutural como um
fator chave na produção de narrativas históricas excludentes. A seguir, a
autora detalha a história de Belo Horizonte, explorando como a cidade foi
planejada e construída sob ideais de modernidade que excluíam a contribuição
negra.
Na seção subsequente, Pereira
investiga os mecanismos institucionais que perpetuam esse apagamento, com foco
em práticas arquivísticas e museológicas. Ela critica a falta de estratégias
adequadas para catalogar e acessar fontes que poderiam iluminar a presença
negra na história urbana. A autora também discute exemplos de resistência e
presença negra que desafiam as narrativas oficiais.
A conclusão do artigo sintetiza as
principais argumentações e propõe caminhos para superar o racismo estrutural
nas narrativas históricas. Pereira sugere uma revisão crítica das práticas
historiográficas e a implementação de políticas que reconheçam e integrem as
contribuições da população negra. Ela defende que uma narrativa histórica mais
inclusiva não só faz justiça às populações marginalizadas, mas também enriquece
a compreensão coletiva da história urbana no Brasil.
Conclusão
A conclusão do artigo de Josemeire
Alves Pereira reforça a importância de reconhecer e integrar as contribuições
da população negra nas narrativas históricas e de memória das cidades
brasileiras. A autora destaca que o silenciamento histórico da população negra
não é apenas uma questão de falta de dados, mas sim um reflexo do racismo
estrutural que permeia as práticas institucionais e historiográficas.
Pereira argumenta que a superação
desse silenciamento requer uma abordagem crítica que desafie as narrativas
dominantes e valorize a diversidade de experiências históricas. Ela sugere que
as instituições arquivísticas e museológicas têm um papel crucial nesse
processo, pois suas práticas de catalogação e acessibilidade podem tanto
perpetuar quanto desafiar o apagamento histórico. Ao adotar estratégias que
tornem as fontes mais acessíveis e inclusivas, essas instituições podem ajudar
a construir uma narrativa histórica mais justa e representativa.
A autora conclui que a revisão das
práticas historiográficas é essencial para corrigir as injustiças históricas e
enriquecer a compreensão da formação urbana no Brasil. Ela defende que as
narrativas históricas devem incluir todas as vozes e contribuições,
reconhecendo o papel significativo da população negra na construção e
desenvolvimento das cidades. Pereira sugere que uma abordagem mais inclusiva e
diversa não só faz justiça às populações marginalizadas.
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