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terça-feira, 13 de agosto de 2024

"A Eloquência dos Silêncios: Racismo e Produção de Esquecimento sobre a População Negra em Narrativas de Memória das Cidades"

Josemeire Alves Pereira

Reflexão Geral e Resumo do Artigo

O artigo intitulado "A Eloquência dos Silêncios: Racismo e Produção de Esquecimento sobre a População Negra em Narrativas de Memória das Cidades", de Josemeire Alves Pereira, é uma exploração profunda sobre o racismo estrutural e institucionalizado no Brasil, manifestado por meio do silenciamento histórico da população negra em narrativas urbanas. A autora concentra-se no caso de Belo Horizonte, uma cidade planejada no final do século XIX, e analisa como a historiografia dominante ignora ou minimiza deliberadamente a presença e contribuição da população negra. Essa negligência, segundo Pereira, não é acidental, mas sim um reflexo do racismo sistêmico que permeia as estruturas de poder e molda a memória coletiva.

O artigo inicia com a discussão sobre a invisibilidade da população negra nas narrativas oficiais de Belo Horizonte, desafiando a ideia de que a ausência de fontes históricas justifica essa omissão. A autora critica essa justificativa, sugerindo que a alegação de falta de fontes é usada como uma estratégia para perpetuar o racismo institucional. Ela argumenta que há evidências suficientes para refutar essa narrativa e que a verdadeira questão é o preconceito embutido nas práticas historiográficas e arquivísticas que escolhem ignorar essas evidências.

Pereira utiliza Belo Horizonte como um estudo de caso para examinar os mecanismos de apagamento histórico. A cidade, planejada para ser a nova capital do estado de Minas Gerais, foi concebida sob os ideais de progresso e modernidade, simbolizando um rompimento com o passado colonial. No entanto, essa narrativa de modernidade exclui as contribuições significativas da população negra, que desempenhou um papel crucial na construção e desenvolvimento da cidade. A autora investiga como as práticas de remoção de comunidades negras, a desvalorização de suas contribuições e a destruição de seus patrimônios culturais refletem um padrão de exclusão que ainda persiste.

Uma parte importante da análise de Pereira é a crítica ao papel das instituições arquivísticas e museológicas. Ela discute como essas instituições podem tanto perpetuar quanto desafiar o apagamento histórico. A autora argumenta que a maneira como as fontes são catalogadas e acessadas influencia a visibilidade das histórias negras. Instituições que adotam práticas que desconsideram a diversidade de experiências históricas contribuem para o contínuo silenciamento. Por outro lado, quando as instituições se comprometem a revisar suas práticas, elas podem facilitar a inclusão de narrativas mais diversas e autênticas.

Pereira também aborda a necessidade de uma revisão crítica das práticas historiográficas para reconhecer e integrar as contribuições da população negra. Ela defende que essa revisão não só corrige injustiças históricas, mas também enriquece a compreensão da formação urbana no Brasil. A autora conclui que a superação do racismo estrutural na historiografia exige uma abordagem inclusiva que valorize a diversidade e reconheça as contribuições de todos os grupos sociais. Em suma, o artigo é um chamado à ação para acadêmicos, arquivistas e curadores de museus reavaliar suas abordagens e garantir que as vozes silenciadas sejam finalmente ouvidas e celebradas.

Tema do Artigo

O tema central do artigo é a produção de silenciamento da população negra nas narrativas históricas e de memória das cidades brasileiras, com um foco específico em Belo Horizonte. Pereira explora como o racismo institucionalizado molda essas narrativas, resultando na invisibilidade das contribuições e presenças negras na formação urbana. Ela examina os mecanismos que sustentam esse apagamento, como as práticas arquivísticas e museológicas, e propõe maneiras de superar essas barreiras. A autora enfatiza a necessidade de reconhecer e integrar as histórias negras nas narrativas oficiais para construir uma compreensão mais completa e justa da história das cidades.

Teses Defendidas pelo Autor

  1. Racismo Estrutural nas Narrativas Históricas: Pereira defende que o racismo é um elemento fundamental nas relações de poder no Brasil, influenciando a maneira como a história é contada. Essa estrutura racista resulta na produção de narrativas que silenciam e ignoram a contribuição da população negra.
  2. Falácia da Ausência de Fontes: A autora critica a justificativa comum de que a ausência de fontes históricas é a razão para a omissão da população negra na historiografia de Belo Horizonte. Ela argumenta que essa alegação serve para perpetuar o racismo institucional, pois as fontes existem, mas são frequentemente ignoradas ou desvalorizadas.
  3. Papel Crucial das Instituições Arquivísticas e Museológicas: Pereira analisa como essas instituições desempenham um papel significativo na perpetuação ou superação do apagamento histórico. Ela sugere que práticas de catalogação e acessibilidade adequadas podem revelar narrativas silenciadas e promover uma compreensão mais inclusiva da história urbana.
  4. Necessidade de Revisão Crítica nas Práticas Historiográficas: A autora defende uma reavaliação das práticas historiográficas para incluir as contribuições da população negra, argumentando que isso é essencial não apenas para justiça histórica, mas também para uma compreensão mais rica e diversa da história das cidades brasileiras.
  5. Integração da Diversidade nas Narrativas Oficiais: Pereira enfatiza que reconhecer a diversidade e a contribuição de todos os grupos sociais é crucial para superar o racismo estrutural e construir uma narrativa histórica mais autêntica e completa.

Autores Citados e Suas Contribuições

  1. Hebe Mattos (2013): Explora o silenciamento racial nas fontes demográficas e administrativas do período pós-abolição, destacando como essas práticas contribuem para o apagamento histórico.
  2. Angela da Silva Gomes (2009; 2012): Investiga a presença afro-diaspórica em práticas culturais e sociais, como terreiros e quintais, e como essas práticas são formas de resistência e afirmação identitária.
  3. Thomas Holt (1995): Analisa a reprodução do racismo e da noção de raça na sociabilidade, influenciando as narrativas históricas e destacando a necessidade de abordagens críticas na historiografia.
  4. Sueli Carneiro: Introduz o conceito de "epistemicídio" para descrever a aniquilação do conhecimento africano e afrodiaspórico nas narrativas históricas, enfatizando a necessidade de reconhecimento e valorização dessas contribuições.
  5. Gayatri Chakravorty Spivak (2010): Discute a questão da fala do subalterno, questionando como as narrativas dominantes podem silenciar vozes marginalizadas e propondo a necessidade de escuta ativa e inclusiva.
  6. Nila Rodrigues Barbosa: Examina a representação de sujeitos negros no pensamento museal, revelando como as escolhas museológicas perpetuam narrativas que excluem a diversidade de experiências sociais.

Estrutura Argumentativa do Texto

O artigo de Pereira é estruturado de forma a guiar o leitor através de uma análise crítica e detalhada do silenciamento histórico da população negra em Belo Horizonte. A introdução estabelece o problema e o contexto, destacando o racismo estrutural como um fator chave na produção de narrativas históricas excludentes. A seguir, a autora detalha a história de Belo Horizonte, explorando como a cidade foi planejada e construída sob ideais de modernidade que excluíam a contribuição negra.

Na seção subsequente, Pereira investiga os mecanismos institucionais que perpetuam esse apagamento, com foco em práticas arquivísticas e museológicas. Ela critica a falta de estratégias adequadas para catalogar e acessar fontes que poderiam iluminar a presença negra na história urbana. A autora também discute exemplos de resistência e presença negra que desafiam as narrativas oficiais.

A conclusão do artigo sintetiza as principais argumentações e propõe caminhos para superar o racismo estrutural nas narrativas históricas. Pereira sugere uma revisão crítica das práticas historiográficas e a implementação de políticas que reconheçam e integrem as contribuições da população negra. Ela defende que uma narrativa histórica mais inclusiva não só faz justiça às populações marginalizadas, mas também enriquece a compreensão coletiva da história urbana no Brasil.

Conclusão

A conclusão do artigo de Josemeire Alves Pereira reforça a importância de reconhecer e integrar as contribuições da população negra nas narrativas históricas e de memória das cidades brasileiras. A autora destaca que o silenciamento histórico da população negra não é apenas uma questão de falta de dados, mas sim um reflexo do racismo estrutural que permeia as práticas institucionais e historiográficas.

Pereira argumenta que a superação desse silenciamento requer uma abordagem crítica que desafie as narrativas dominantes e valorize a diversidade de experiências históricas. Ela sugere que as instituições arquivísticas e museológicas têm um papel crucial nesse processo, pois suas práticas de catalogação e acessibilidade podem tanto perpetuar quanto desafiar o apagamento histórico. Ao adotar estratégias que tornem as fontes mais acessíveis e inclusivas, essas instituições podem ajudar a construir uma narrativa histórica mais justa e representativa.

A autora conclui que a revisão das práticas historiográficas é essencial para corrigir as injustiças históricas e enriquecer a compreensão da formação urbana no Brasil. Ela defende que as narrativas históricas devem incluir todas as vozes e contribuições, reconhecendo o papel significativo da população negra na construção e desenvolvimento das cidades. Pereira sugere que uma abordagem mais inclusiva e diversa não só faz justiça às populações marginalizadas.

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