Projeto de pesquisa apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, como requisito do processo seletivo para vagas do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo: Mestrado; área de concentração: história e fundamentos da arquitetura e do urbanismo; linha de pesquisa: memória, práticas e representações.
RESUMO
Palavras-chave:
João Brícola. Mappin. SESC. Vacância.
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
O encerramento
das portas do Edifício João Brícola em 03 de março de 2023 teve grande
repercussão na imprensa paulistana. Não era apenas mais uma loja que fechava em
São Paulo, mas um ícone do comércio de rua, personagem relevante na história
recente do centro da cidade. Foi o fim do contrato de sua última inquilina, a
Casas Bahia, que ali permaneceu por 19 anos. Não obstante, o edifício ainda é
lembrado como prédio do Mappin[1], referência nacional, por muitas décadas em
lojas de departamentos. O edifício que, apesar de ser um notável exemplar art
déco, é mais reconhecido pelo seu uso do que por seus atributos estéticos;
está localizado na praça Ramos de Azevedo, a poucos metros do Viaduto do Chá,
um dos principais cartões postais da cidade, ambos projetos do mesmo arquiteto,
Elisiário Antônio da Cunha Bahiana[2].
O abaixar das
portas nos convida a reflexões pelas várias camadas de simbolismo que contém. O
prédio que atraiu gerações dinamizando o espaço urbano, hoje evoca a incerteza,
não de si – que parece ter garantida a sua salvaguarda –, mas da relação do
homem com o espaço público tradicional, com o comércio de rua, com as calçadas;
até finalmente tomarmos consciência da contradição entre a ociosidade atual de
tantos imóveis em meio à indigna condição de vulnerabilidade daqueles que
habitam suas marquises, alegoria da brutal desigualdade social que assombra nossa
sociedade. Portanto, questões que extrapolam a concretude de suas paredes e nos
conduzem a uma abordagem ontológica do prédio.
Sugerimos que o
edifício é um marco relevante na imagem da cidade e na memória coletiva do
paulistano; situado em uma praça importante e local de grande convergência de
pessoas ao longo dos últimos 90 anos. O edifício, usado unicamente como comércio
de varejo, pode ser considerado também como um símbolo do capitalismo, numa
megacidade moldada por este; está ligado à história da elite paulistana, do seu
êxito econômico, das instituições, da urbanização avassaladora etc. Neste projeto,
propomos um recorte que, apesar de cronologicamente ampliado, está restrito aos
atores-chave na trajetória do prédio e ao território imediato em que está inserido.
Há contribuições importantes
sobre a produção do arquiteto Elisiário Bahiana, (cf. SEGAWA, 1984; Id. 1998; MANCINI,
2013), todavia, nos deparamos com lacunas sobre o Edifício João Brícola[3], que pretendemos ajudar a preencher com
esta pesquisa.
Usando parte do
instrumental conceitual trabalhado por Kevin Lynch (1997), vias, limites,
pontos nodais e marcos, elementos com os quais o autor elabora a ideia de imagem
da cidade enquanto construção coletiva, podemos enquadrar nosso objeto de
estudo como um marco, no perímetro de um grande ponto nodal, a
Praça Ramos e todo o Vale do Anhangabaú; sendo o vale também um limite
entre o centro velho e o centro novo. Nosso marco fica centralizado exatamente
na junção de vias históricas, elo entre dois “tempos” da cidade, a Rua
Barão de Itapetininga e a Rua Direita, se considerarmos o Viaduto do Chá como
seu prolongamento. Conforme Lynch, visões amplas em sítios urbanos são convites
ao desfrute, à surpresa, ao encantamento e pode-se afirmar que a conformação do
Vale do Anhangabaú causa justamente esse efeito em quem percorre seus viadutos,
mirantes ou a grande esplanada. É nesse local extraordinário, indutor de imaginabilidade
e de legibilidade, que nosso edifício está inserido e é elemento de
destaque em um conjunto arquitetônico de grande relevância para a imagem e
identidade da cidade.
Ainda para Lynch,
identidade “implica na sua diferenciação de outras coisas, seu reconhecimento
enquanto entidade separável” (ibid. p. 9). Além da imagem, como construção
coletiva, há um conjunto de elementos que conferem essa identidade a um espaço,
desde os sons da rua; caminhos que, de tanto percorrermos, tornam-se familiares;
as histórias orais dos mais velhos sobre banalidades do cotidiano daquele
espaço: lembranças, como pontua Ecléa Bosi (2003). Além disso, sugerimos
que a identidade pode ser decorrente da relação afetiva pelo uso que um
indivíduo ou um grupo faz de um logradouro ou de um prédio, simplesmente. As lembranças
que temos de visitar uma sorveteria com nossa mãe, nosso avô, amigos, na longínqua
infância, ou com nossos filhos, quando ainda eram crianças, são valiosas, independente
dos atributos materiais do lugar. Especialmente quando o espaço é imutável por
várias gerações, como o caso do nosso objeto de pesquisa. Com diversas pessoas
mais velhas com quem conversamos sobre o Mappin, foi comum que a resposta
viesse acompanhada de um sorriso, revestindo uma lembrança familiar. As
respostas envolviam memórias detalhadas das seções da loja e seus andares, a
dinâmica de circulação e ocupação pelo público, o dia da semana favorito, os
cheiros etc. Todos esses aspectos ajudam a construir uma memória individual e
coletiva, e que fomentam o valor simbólico que atribuímos a um prédio ou a um
espaço que, não raro, se sobrepõem ao valor estético e material, o que acreditamos
ser o caso do Edifício João Brícola, ainda que este esteja longe da irrelevância
enquanto exemplar arquitetônico.
Além dos
atributos visuais e memorialísticos que promovem sua identidade, sugerimos que o
edifício é também representante de um outro processo muito peculiar. São Paulo,
viveu – e vive – um espraiamento de sucessivos vetores de expansão imobiliária.
Em uma lógica capitalista, a produção do espaço na cidade moderna é
impulsionada pelo lucro e é de se esperar que em uma cidade com extraordinária
convergência de capital e de interesses interferindo na política, a profusão
desses vetores seja, portanto, proporcional (cf. ROLNIK, 1997; FRÚGOLI-JR,
1995; Id. 2000). Essa primeira expansão da cidade[4] ocorreu na segunda metade do século XIX, no
exato local onde o Prédio João Brícola foi construído décadas depois. Para aquela
área, na primeira metade do século XX, iriam convergir instituições e um comércio
voltado às elites, à exemplo do Mappin Stores. A história dessa expansão
inicial é, portanto, indissociável da história do Edifício João Brícola, um
importante ator nessa primeira, das várias ondas de centralidades[5] que se sucederam e ajudaram a
expandir São Paulo. Histórias que retomaremos mais à frente.
Neste projeto,
para que priorizássemos aspectos mais contextuais e justificativos, optamos por
abordar alguns agentes e conceitos relacionados à pesquisa em notas de rodapé,
o que não lhes confere caráter secundário; na pesquisa, certamente ocuparão
várias páginas ou capítulos inteiros.
1.1.
Delimitações
Partindo do
princípio de que o espaço urbano é um produto social, ou seja, é socialmente
construído, não simplesmente dado pela natureza e que com o avanço da análise
através da lente do materialismo histórico, é que se pôde avançar na
compreensão da geografia além da simples descrição do espaço físico (VILLAÇA,
2011), então para compreendermos melhor nossas cidades e seus elementos, em
toda sua complexidade e camadas, um bom começo seria observar como se operaram
as relações sociais e seus desdobramentos nas instituições, a integração dos
diversos atores, que se posicionam e se tensionam até lograr suas satisfações.
Observar um ou outro isoladamente não parece producente, é preciso que nos
afastemos, para o alto e para o passado, até que se chegue em um enquadramento
ideal, com uma visão panorâmica desse movimento.
Nesse sentido, como
o recorte espacial, sugerimos o vetor Rua Direita e Rua Barão de Itapetininga –
em cujo centro geométrico está o edifício –, por serem vias históricas, cheias
de simbolismo, de forte relevância para a memória da cidade e para o comércio
de rua, uma espécie de cordão umbilical entre o centro velho e novo. Neste
recorte pretendemos incluir alguns prédios e logradouros na sua área de
influência, que possam contribuir com a análise; como as galerias da Rua Barão
de Itapetininga e da Rua 24 de maio, por exemplo. No território, trabalharemos pesquisas
de campo, quantitativa e qualitativa, que fundamentem reflexões objetivas e
abstratas, ou seja, uma abordagem que vá além de uma simples catalogação
documental e iconográfica do edifício.
Na abordagem
temporal, baseados na historiografia e na observação do espaço, sugerimos que a
cronologia pode ser dividida em quatro movimentos. O primeiro deles,
entre os decênios de 1930 a 1960, seria o movimento de expansão, quando
a cidade extravasou seu núcleo original e que consolidou aquela nova área, além
do Vale do Anhangabaú, com a chegada do comércio de elite e a valorização daquele
espaço. O segundo movimento, entre 1960 e 2010, seria o da popularização, com
a criação de uma nova centralidade na região da Avenida Paulista, a partir dos
anos 1960, com o incremento das atividades informais e da forte corrente migratória
interna (FRÚGOLI-JR, 1995). O terceiro movimento, seria o de esvaziamento,
a partir de meados da década de 2010 até aos dias atuais, pós pandêmicos,
quando é observado, a priori, um processo de vacância dos imóveis, com placas
de aluga-se ornando quarteirões quase inteiros. Finalmente, concomitantemente
e se tensionando com o terceiro movimento, temos o quarto, a resistência,
aonde agentes públicos e privados, conscientes do patrimônio ocioso, buscam
soluções.
O Edifício João
Brícola acompanhou esses movimentos, e ainda que sua arquitetura tenha se
mantido quase inalterada ao longo desse período, testemunhou e se adaptou às
mudanças pelas quais o centro da cidade tem passado: nasceu como uma elegante
loja de departamentos, foi convertido em sede de uma loja de artigos populares
e, mais recentemente, foi anunciado como a mais nova unidade do Serviço Social
do Comércio – SESC[6], reforçando a vocação cultural do centro
como região preferencial dos equipamentos culturais de São Paulo.
1.2.
Contextualização histórica e expansão
Segundo Frúgoli
Jr. (2000), há na literatura um consenso de que que a modernização urbana está
amparada na Paris da segunda metade do século XIX. Ali, a industrialização foi
acompanhada de um significativo aumento populacional com a chegada de camponeses
que passaram a compor a massa urbana e que resultou numa uma intervenção em
larga escala, sob o comando do barão de Hausmann, alterando-a profundamente,
reforma que é, até hoje, referência na história do urbanismo. Cabe ressaltar
aqui um novo paradigma, a articulação inédita do urbanismo com alianças
estratégicas entre o poder público e setores do capital, favorecendo a
especulação imobiliária e o capital financeiro. É curioso perceber que nesse
mesmo período, São Paulo, até então uma pequena cidade, viveria a partir daí
situações parecidas, guardadas as proporções. O ciclo do café mudaria a cidade para
sempre, proporcionando uma grande atração populacional, de capital e uma
intrincada relação entre interesses privados e públicos.
Desde sua
fundação, em 1554, até a primeira metade do século XIX, podemos dizer, grosso
modo, que a cidade de São Paulo estava encaixada em seu sítio inicial conhecido
como triângulo histórico. Com o surto cafeeiro, essa configuração
começou a se alterar (HEREÑÚ, 2007). Novo arruamentos tomaram os vales e a cidade
ultrapassou esse perímetro inicial. O Vale do Anhangabaú, era consideravelmente
mais fácil de transpor do que o vale do Tamanduateí e a expansão para esta
direção parecia a mais natural. Transpor o vale através de uma passagem em
nível, era então uma necessidade e, em 1892, São Paulo inaugurava, assim, o
primeiro dos seus incontáveis viadutos, o Viaduto do Chá[7], e pôde então conquistar o Oeste. Coube
prioritariamente às classes de maior renda a ocupação dessa nova área, que de
tão próxima ao centro, passou a ser chamada centro novo. “Nesta nova
configuração a localização do vale [do Anhangabaú] passou a ser central. Um
grande espaço vazio no coração da cidade, respiro entre as estreitas ruas do
centro velho e as pujantes construções do centro novo” (Ibid., p. 61).
As atenções da
cidade convergiram para o Vale do Anhangabaú naquele momento e é interessante
notar o jogo de “interesse dos grupos dominantes na construção dos espaços de representação
do desenvolvimento econômico e social proporcionado pela cultura do café” (Ibid.,
p.65).
Seguiram-se,
entre 1890 e 1911, diversas propostas para o espaço que sempre procuravam
atender aos interesses dos proprietários de terras nas cercanias do vale.
Acabou-se encomendando o projeto de autoria do urbanista francês Joseph Antoine
Bouvard e, assim, o Vale do Anhangabaú ganhou seu primeiro projeto de
urbanização e se tornou o novo jardim da cidade, finalizado em 1917. Em 1911
foi inaugurado, no lugar então conhecido como Morro do Chá, o novo Teatro
Municipal, inicialmente concebido pela elite paulistana como uma casa de
espetáculos que refletisse sua ambição de refinamento cultural[8].
No centro novo,
até o começo dos anos 1930, prevaleciam edificações de pequeno porte, a partir
desse momento a região começou a ganhar prédios maiores; o antigo Viaduto do
Chá, em estrutura metálica, estava ficando incompatível com a crescente demanda
e, em 1934, foi realizado um concurso público para o projeto de um novo
viaduto. O projeto escolhido propunha uma ligação totalmente em concreto com o
dobro da largura; a obra arrojada para a época fortaleceu a ligação entre o
centro velho e o centro novo e estimulou a ocupação e verticalização além do
vale. O autor da proposta vencedora foi o arquiteto Elisiário Bahiana.
Com a ligação
consolidada e com o automóvel já onipresente, as distâncias agora já não eram
problema e ajudaram a encurtar o tempo de vida dos imóveis do centro
velho (VILLAÇA, 1989). O centro novo viveria seu período de ouro; aquela parte
da cidade se verticalizava e atraia investimentos tanto do setor privado quanto
do público; inúmeros prédios de grande porte passaram a ser construídos e
outras lojas “elegantes” se fixaram na rua Barão de Itapetininga e adjacências
constituindo a nova região de circulação da elite e o começo da popularização
do comercio no triângulo central” (LANG, 1991 apud FRÚGOLI-JR, 1995 p. 27).
É nesse contexto
que, em 1936, o Mappin Stores começava a planejar a mudança do seu antigo
endereço na Praça do Patriarca. A princípio, procurou o Palacete João
Brícola[9], na Praça Antônio Prado, mas chegou tarde;
o Banco do Estado de São Paulo - BANESPA já havia adquirido o imóvel[10] que pertencia à Santa Casa de Misericórdia[11] (OLIVEIRA, 1986); esta, por sua vez, lhe
ofereceu um prédio que idealizava construir do outro lado do Vale, na praça
Ramos de Azevedo. Estabelecer-se do outro lado do Anhangabaú ainda era, naquele
tempo, uma ousadia; mas o Mappin Stores muniu-se da coragem necessária, topou
negócio, cruzou o vale (PEIRÃO; ALVIM, 1985) – levando seu icônico relógio
–, e inaugurou, em 1939, sua nova loja no centro novo, sua casa pelos próximos
60 anos. No projeto inicial, os primeiros cinco pavimentos seriam destinados à
loja e os demais a escritórios; porém o Mappin acabou usando todos os andares e
ainda propôs, em 1944, a construção de mais um pavimento, o que foi negado pela
Santa Casa (CARNEIRO, 1986).
O prédio art
déco, arquitetura futurista[12] na época, foi executado em estrutura
de concreto armado pela Sociedade Comercial e Construtora; possui 14 pavimentos
e um subsolo, totalizando 12.359 m² de área construída; era, naquele momento,
um dos maiores da cidade. O projeto moderno de Elisiário Bahiana impôs-se
altivamente – e harmoniosamente – ao ecletismo do Teatro Municipal; ainda que
de estilos distintos, há um certo diálogo na simetria e na semelhança de cores
das fachadas. Há diferenças entre os desenhos iniciais de Bahiana e o
executado, indicando alguma simplificação e despojamento na fachada, talvez a
pedido da contratante, o que elucidaremos na pesquisa.
O período de ouro
duraria muito tempo. No decênio de 1960 entra em cena outro eixo que reivindicaria
o protagonismo da cidade, a Av. Paulista e, a partir de então, começaria o declínio
desse primeiro vetor de expansão imobiliária de São Paulo.
1.3.
Popularização
Entre os decênios
de 1960 e 1990 houve um grande deslocamento das elites, acompanhadas pelo
comércio e serviços para a novas regiões do quadrante sudoeste, em
especial a região da Avenida Paulista (ROLNIK, 1997); o poder público
acompanhou esse processo, dando suporte indireto ao mercado imobiliário através
de investimentos urbanos estruturais – até o gabinete do prefeito foi para o
Parque Ibirapuera, na década de 1950, e o do governador para o bairro do
Morumbi, na década de 1960 (VILLAÇA, 1989).
Flávio Villaça (2011) oferece uma
perspectiva interessante que ajuda a compreender a concentração das elites nesse
quadrante. Para ele o tempo de deslocamento é um dos
maiores fatores na construção e reprodução do espaço urbano segregado. O tempo
de deslocamento entre o lar e o trabalho é o que ajuda a explicar a
concentração da classe dominante nessa mesma região da cidade e não espalhada
em bolsões em todos os quadrantes; a classe dominante vive e trabalha na mesma
região, diferente dos mais pobres. E na luta pelo espaço, como não caberiam
todos no mesmo lugar, vence o mais forte, e é ele quem determina onde serão
feitas suas casas, seu trabalho e sua diversão; aos mais pobres, cabe o espaço
que restar, normalmente afastado. Portanto, uma tese que se soma ao senso comum
de que o principal elemento segregador é simplesmente a violência ou o
elitismo, tão bem representados pelo condomínio fechado ou o shopping center.
Para o autor, o homem não consegue controlar o tempo, mas consegue controlar o
espaço.
De acordo com Beatriz
Kara-José (2010), esse processo de deslocamento das elites contribuiu com uma
grande transformação no centro e sua consequente sua popularização,
amplamente referida como deterioração ou degradação, segundo a autora, termos
imbuídos de caráter ideológico. A região passou a receber um contingente cada
vez maior de pessoas de classes populares, boa parte do qual composta por
migrantes de outros estados, principalmente da região nordeste (FRÚGOLI-JR, 1995);
muitos passaram a desenvolver atividades informais como estratégia de
sobrevivência, concomitantemente viu-se a deterioração de parte de seus
equipamentos urbanos e o declínio de seu valor imobiliário. Heitor Frúgoli-Jr
frisa que não é possível afirmar que a popularização foi o determinante para
essa degradação do espaço público, mas que aconteceu em paralelo (idem, 2000).
Sugere que políticas escassas, erráticas e um “contexto autoritário[13], acarretou [...] obras descabidas e
predatórias” (ibid., p.58), que contribuíram para essa degradação, como o
Elevado Costa e Silva [Minhocão] – atual Elevado João Goulart – e a
antiga Praça Roosevelt, por exemplo.
Em nossa
interpretação, o termo popular, empregado pelos autores, entende-se como
atributo de grupos sociais com pouco capital econômico, social e
cultural, usando a perspectiva bourdieusiana. Todavia, pouco capital cultural
apenas se tomarmos cultura como erudição ou aquela legitimada pelas
classes dominantes, já que naqueles segmentos sociais havia muita cultura, no
seu sentido mais amplo. Era justamente a cultura – regional, popular, étnica, urbana,
cosmopolita etc. – que atribuía identidade aos variados grupos que ali circulavam,
especialmente a partir da década de 1980. Na região em torno da Rua Barão de
Itapetininga, e nas suas famosas galerias, houve uma profusão de tribos,
jovens pobres que recorriam “a estratégias simbólicas que lhes propiciam fazer
parte da categoria de juventude, minimizando dentro do possível as diferenças
decorrentes das discriminações, uma vez que suas possibilidades de consumo são
muito mais precárias” (Ibid., p. 66). Eram grupos de punks, blacks, heavy-metal
(metaleiros), skinheads, hip-hop, rap etc., que vinham da periferia
e faziam daquele espaço um local para estabelecer suas redes de relações
sociais (Ibid.). De acordo com relatos colhidos por nós para a elaboração deste
projeto, aconteciam nas calçadas em frente ao Mappin, nos anos 1990,
reuniões de grupos com apresentações de street dance, em batalhas, com
grande público, assunto que será aprofundado na pesquisa.
Em fins do
decênio de 1990, grandes lojas de varejo do país, a Mesbla, as Lojas
Brasileiras e o Mappin faliram. A Mesbla fecha sua grande loja na Rua 24 de maio,
que anos depois foi transformada em uma unidade do SESC. O Mappin, no Edifício
João Brícola, encerrou suas portas em 1999; e em seu lugar o Grupo Pão de
Açúcar abriu uma loja do supermercado Extra, que duraria 5 anos; em novembro de
2004, a Casas Bahia se tornou sua última inquilina que ali permaneceu por 19
anos, até março de 2023.
1.4.
Esvaziamento
Consideramos
esvaziamento o processo crescente de vacância de imóveis, ou seja, imóveis que
não estão abandonados, mas fechados ou vagos, sem uso. As taxas de vacância são
indicadores úteis tanto na esfera pública quanto privada. Para a esfera
pública, uma alta vacância significa baixa arrecadação de impostos, para o
setor privado, a variação possibilita o direcionamento dos investimentos e
aplicações de capitais e uma relação direta com a variação dos valores
imobiliários (BONFIM, 2004). Poucos imóveis vazios em uma região podem
significar pouca oferta, o que levará a um possível aumento do valor, o
contrário, pode indicar desvalorização e consequente redução de lucros.
Atualmente, na
região central a quantidade de imóveis fechados é bastante perceptível ao
caminharmos na área, facilmente encontramos edifícios inteiros fechados,
silêncio e ruas calmas, antes tumultuadas e barulhentas. Os motivos do
esvaziamento são diversos: a obsolescência dos edifícios; a redução da
circulação de pessoas; retornos não atraentes, com isso os ocupantes procuram
outras áreas e proprietários, diante do custo pouco vantajosos de reformá-los,
acabam fechando os imóveis esperando a gentrificação da área e evitando locar
por um valor muito baixo, a um grupo de estrato social inferior ao que ocupava
anteriormente. (Ibid.)
Usamos o termo esvaziamento
para dar a dramaticidade necessária, mas o centro está longe de estar vazio. Lojas,
escritórios e domicílios podem estar, mas as calçadas não; há, sob as marquises
do Edifício João Brícola – neste momento –, famílias inteiras acampadas em barracas.
Note-se que não é o mesmo que consideramos anteriormente como popularização,
mas sim, pessoas em grave situação de miséria. Em São Paulo, como nas grandes
metrópoles brasileiras, a desigualdade tem gerado uma população cada vez maior
e mais vulnerável, estimada, em 2023, em 52 mil pessoas (G1, 2023), que
encontram nas marquises e viadutos espalhados na cidade um abrigo de
intempéries e, pela necessidade de sobrevivência, muitas convergem para o
centro, atrás de esmolas, trabalhos simples e da caridade de tantos; muitas apenas
sem emprego e sem perspectivas; outras em situações desumanizantes, criadas em
contextos sociais desestruturantes, sem referências de cidadania, com traumas,
carentes de amparo psicológico, psiquiátrico, com vícios em entorpecentes, como
o crack, o álcool etc.
É importante
ponderar também que a pandemia de Covid-19 alterou profundamente os paradigmas
do mercado imobiliário, especialmente os comerciais[14] e seu impacto nas mais variadas esferas da
sociedade merece uma abordagem aprofundada. Por ser um tema extremamente
complexo, cuja literatura ainda é escassa, nos limitaremos a contribuir com
pesquisas de campo quantitativa e qualitativa que forneçam alguma base de
comparação da ocupação os imóveis dentro da delimitação territorial que
propusemos.
1.5.
Resistência
É antiga a
consciência de que o centro precisa de atenção e de políticas. Desde os anos
1990 a região tem recebido intervenções pontuais com o objetivo de
requalificá-la. Algumas relativamente bem sucedidas, mas no geral paliativas. Dentre
as ações destacamos: o retorno de expedientes públicos para edifícios
estratégicos, como a transferência da sede da prefeitura para o Edifício
Matarazzo, a Secretaria de Habitação para o Edifício Martinelli; a compra pelo
governo do estado de um grande número de edifícios nas Ruas XV de novembro e
Boa Vista (KARA-JOSÉ, 2010) transferindo suas repartições na tentativa de
dinamizar aquela área; programas realizados entre as décadas de 2000 e 2010, com
enfoque na habitação[15]; além de alterações no zoneamento são
alguns exemplos na esfera pública. Todas foram medidas importantes, mas não
plenamente eficazes, uma vez que são descontinuadas, desarticuladas e não
alcançam a raiz do problema que parece estar, na estrutural reprodução da
desigualdade social.
Os movimentos
sociais por habitação também têm uma enorme relevância nessa resistência
– senão a maior – enquanto indutores de reflexões na sociedade sobre a questão
da escandalosa ociosidade de imóveis em contraste com a multidão de pessoas em
situação de rua. Diante da enorme quantidade de edifícios inteiros fechados há
anos, o número de ocupações ainda é muito pequeno mas ajuda a denunciar o
problema. Segundo suas lideranças, o objetivo é chamar a atenção e clamar pela
implantação de políticas habitacionais de interesse social na área central,
melhorar a localização dessas habitações, ampliar o atendimento a famílias de
renda entre um e três salários mínimos e maior participação dos movimentos
sociais no direcionamento das políticas habitacionais (KARA-JOSÉ, 2010).
Há também
movimentos como a Associação Viva o Centro, organização de entidades e empresas
sediadas ou vinculadas ao centro, que procura, através de projetos e campanhas,
estimular a requalificação e consequente revalorização do espaço
(FRÚGOLI-JR, 2000).
Na esfera privada
vimos, especialmente na Vila Buarque nos últimos anos, a vacância dar lugar a um
comércio de rua bem sucedido, voltado à classe média, com variados estabelecimentos
como lanchonetes, restaurantes, mercados, sorveterias, bares, livrarias e
galerias de arte que começaram a aparecer nas imediações do Edifício Copan, da Praça
da República, na Av. São Luís, na Rua Major Sertório etc., indicando num surto
de otimismo ou de uma visão estratégica, inerente ao instinto empresarial.
Em nossa
interpretação, na esteira do pensamento de Jane Jacobs (2014), a mescla de
comércio, serviços e habitação, em edifícios velhos e novos, movimentando
calçadas e reunindo diferentes estratos sociais parece ser uma das melhores disposições
para a saúde dos espaços urbanos.
Na esfera do
terceiro setor, destacamos a resistência de instituições como o Serviço Social
do Comércio - SESC, que vem investindo em unidades no centro, como o SESC
Carmo, Florêncio de Abreu e Consolação, e que em 2017 inaugurou a aguardada
unidade na antiga loja da Mesbla, na Rua 24 de maio, depois de um cuidadoso e celebrado
projeto e de uma longa reforma. Sua atenção agora se volta para uma nova
unidade, anunciada com a mesma atenção na imprensa. A mudança de sua sede
administrativa, a ser instalada no Edifício João Brícola, tendo reservado o térreo
para atividades abertas ao público (SESC-SP, 2023).
Por fim,
afirmamos ser curiosa a trajetória do edifício. Concebido como fonte de renda
de aluguel por uma prestigiosa entidade sui generis de assistência
social, com foco na saúde, a Santa Casa de Misericórdia, em 1939, e chega a
2023 como patrimônio de outra benquista entidade sui generis de
assistência social, dessa vez com foco na cultura. Tornou-se famoso por abrigar
por décadas grandes lojas e agora será destinado a ser a sede do SESC, cuja
razão de existir é justamente o apoio ao trabalhador do comércio, simbólico
portanto.
Ainda que as
lojas de departamentos sejam uma espécie de embrião do shopping center, o
formato daquelas é literalmente o inverso deste, tal qual uma meia ao avesso,
onde as calçadas e vitrines foram emboladas para dentro e agora estão
protegidas da chuva, da insegurança, mas também da identidade das
cidades pois, seja em Porto Alegre ou Belém, todos os corredores agora são
iguais, num regime rígido e previsível no qual se sabe exatamente a temperatura
e a classe social que se vai encontrar.
Eis mais um
motivo para celebrar, documentar e preservar um edifício como o João Brícola, concebido
para ser loja de rua, com grandes panos de vitrines para exibir seus produtos,
pensado no tempo em que a vida pública acontecia nas calçadas; nos faz pensar
que mesmo com as diversas transformações que vivemos nas últimas décadas, dos
cheques aos cartões, das calçadas para os corredores de shopping centers,
ele chegou até aqui, como loja até 2023. Não é nosso objetivo aqui lamentar ou
impor o passado, mas celebrá-lo, é também refletir sobre o futuro, sem
cerceá-lo.
A internet expande
cada vez mais sua influência e altera o comportamento humano, fazendo com que
as novas gerações nem imaginem sair de casa para comprar meias, o fazem pela
vitrine virtual personalizada de seus smartphones cada vez inteligentes e individualizantes.
2. OBJETIVOS
2.1.
Produzir uma pesquisa documental e iconográfica sobre o
edifício e seu autor.
2.2.
Compreender as transformações de uso e ocupação do
entorno imediato ao edifício, desde sua construção aos dias atuais, destacando
as transformações do comércio e da sociedade.
2.3.
Fornecer fundamentação teórica sobre conceitos como
imagem da cidade, identidade, memória centralidade, expansão, elitização,
popularização, esvaziamento/vacância e resistência.
2.4.
Relacionar a história do prédio com os conceitos acima,
procurando habilitar a edificação como:
2.4.1. Componente
importante na formação da identidade do centro de São Paulo, enquanto parte da
paisagem, da memória e dinamizador do espaço urbano.
2.4.2. Representante
do processo de formação de centralidades e etapas posteriores de popularização,
esvaziamento e resistência.
2.4.3. Exemplar
importante da arquitetura de lojas de departamentos, relacionando-o com a
história do comércio na região central e suas transformações.
3. QUESTÃO CENTRAL DA PESQUISA
Realizar um
aprofundado estudo sobre o Edifício João Brícola, considerando-o como
componente da identidade do centro novo da cidade, dada a sua longeva presença,
tendo seu uso exclusivo como espaço comercial ao longo de 90 anos, sem que sua
arquitetura tenha sido alterada e, aprofundando seu poder representativo,
habilitar o prédio também como símbolo das transformações que se sucedem em São
Paulo desde a segunda metade do século XIX, onde a expansão e elitização
promovidas pelo mercado imobiliário parecem ser sucedidas pelos processos
sequenciais de popularização, ociosidade e resistência. E ainda, à luz de sua
aquisição pelo SESC, afirmar que tal representatividade lhe confira prestígio
entre o acervo arquitetônico e histórico da cidade.
4. MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho será
desenvolvido com base em diferentes metodologias: pesquisas em acervos
institucionais, como o da FAU USP, que detém 69 projetos de Elisiário da Cunha
Bahiana, entre eles o referente ao Edifício João Brícola, e o Arquivo Público
da Cidade de São Paulo; em revistas de época e hemerotecas, como a da
Biblioteca Nacional e da Biblioteca Mario de Andrade; entrevistas com antigos
frequentadores do Mappin Stores; visitas ao local; bibliografia existente na
biblioteca da FAU USP sobre o edifício, seu autor e temas relacionados ao
centro da cidade e sua evolução urbana. As atividades serão desenvolvidas
conforme o detalhamento a seguir:
4.1. Levantar
conteúdo historiográfico e iconográfico sobre os agentes envolvidos na história
do edifício como o Sr. João Brícola, o BANESPA, A Santa Casa de Misericórdia, o
arquiteto Elisiário Bahiana, o Mappin, as Casas Bahia, a mídia, a prefeitura e
o SESC-SP.
4.2. Levantamento
de documentação e iconografia de modo a compreender o contexto de contratação
do arquiteto, as premissas e escopos recebidos pela Santa Casa de Misericórdia
e modificações que o edifício sofreu ao longo do tempo.
4.3. Interlocução
e entrevistas com frequentadores do edifício e com pessoas que vivenciaram
aquele espaço, nas Ruas Direita e Barão de Itapetininga e suas imediações, ao
longo das últimas décadas.
4.4. Fundamentação
teórica, através de revisão bibliográfica com autores e conceitos que versem
sobre a imagem da cidade, identidade, memória e valor simbólico de um espaço ou
prédio através do uso coletivo que uma sociedade faz dele. Assim como examinar
conceitos como centralidade, elitização, popularização, esvaziamento/vacância e
resistência.
4.5.
Elaborar uma revisão bibliográfica que aborde a formação
da área em que está inscrito o edifício – Praça Ramos, Vale do Anhangabaú, Ruas
Direita e Barão de Itapetininga –, passando pela formação da centralidade da
Av. Paulista, usando como recorte temporal os anos de 1890 até 2023, com
enfoque histórico e sociológico, incluindo teorizações e desdobramentos e sobre
a pandemia de Covid-19.
4.6.
Pesquisa ao longo do vetor Rua Direita e Barão de
Itapetininga dados relativos à vacância dos imóveis.
5. FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS
5.1.
Os conceitos, definidos
pela bibliografia, serão articulados com
dados historiográficos, com dados qualitativos e quantitativos do trabalho de campo (levantamento documental, interlocuções,
entrevistas e resultado de pesquisas), estabelecendo
possíveis diálogos, a fim de confirmar integralmente ou em partes as
premissas e argumentações aqui propostas.
5.2.
De forma mais específica, parte dos resultados da pesquisa
também poderão ser analisados em artigo científico que o autor se compromete a
submeter à revista indexada.
6. PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA
6.1.
Cumprimento dos créditos exigidos pelo programa de
pós-graduação.
6.2. Levantar
conteúdo historiográfico e iconográfico do edifício.
6.3. Levantar
conteúdo historiográfico e iconográfico dos atores envolvidos na história do
edifício.
6.4. Revisão
bibliográfica historiográfica do sítio com enfoque histórico e sociológico.
6.5. Pesquisa
de campo qualitativa e quantitativa nas ruas Direita e Barão de Itapetininga.
6.6. Revisão
bibliográfica e sistematização das informações levantadas acerca dos conceitos
de imagem da cidade, identidade, memória e valor simbólico, centralidade,
elitização, popularização etc.
6.7. Comparação dos resultados provenientes dos itens acima
descritos.
6.8. Estruturação da pesquisa e redação do projeto de qualificação.
6.9. Revisão e entrega do projeto
de qualificação.
6.10. Redação,
revisão e complementação da dissertação.
6.11 Entrega e defesa da dissertação.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOMFIM, Valéria Cusinato. Os
espaços edificados vazios na área central da cidade de São Paulo e a dinâmica
urbana. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil e
Urbana) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. DOI: 10.11606/D.3.2004.tde-26052004-103020.
Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-26052004-103020/.
Acesso em: 17 jul. 2023.
BOSI, Ecléa. Memória da cidade:
lembranças paulistanas. Estudos Avançados, [S. l.], v. 17, n. 47,
p. 198–211, 2003. DOI: 10.1590/S0103-40142003000100012.
BOVO, Marcos Clair; OLIVEIRA,
Michelli Alvares De. Centro e Centralidade Urbana: Uma análise da pequena
cidade de Peabiru (PR), Brasil. Caderno Prudentino de Geografia, [S.
l.], v. 3, n. 36, p. 104–123, 2014.
CARNEIRO, Glauco. O poder da
misericórdia: Irmandade da Santa Casa na história social e política da cidade
de São Paulo, 1560-1985. São Paulo: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia
de São Paulo, 1986. a. v. 1
______. O poder da misericórdia:
Irmandade da Santa Casa na história social e política da cidade de São Paulo,
1560-1985. São Paulo: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo,
1986. b. v. 2
CASTELLS, Manuel. A questão
urbana. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
FRÚGOLI-JR, Heitor. São
Paulo: espaços públicos e interação social. São Paulo, SP: Marco Zero :
SESC, 1995.
______. Centralidade em São
Paulo: trajetórias, conflitos e negociações na metrópole. São Paulo, SP:
Edusp, 2000.
G1. Cidade de SP contabiliza
mais de 52 mil moradores de rua, alta de 8,2% em 2023, afirma pesquisa.
2023. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/04/05/cidade-de-sp-contabiliza-mais-de-52-mil-moradores-de-rua-alta-de-82percent-em-2023-afirma-pesquisa.ghtml.
Acesso em: 11 jul. 2023.
HEREÑÚ, Pablo Emilio Robert. Sentidos
do Anhangabaú. 2007. Dissertação (Mestrado - História e Fundamentos da
Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. DOI: 10.11606/D.16.2007.tde-17052010-145047.
Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-17052010-145047/.
Acesso em: 18 jul. 2023.
JACOBS, Jane. Morte e vida
de grandes cidades. 3. ed ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
KARA-JOSÉ, Beatriz. A
popularização do centro de São Paulo: um estudo de transformações ocorridas nos
últimos 20 anos. 2010. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e Regional) -
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. DOI: 10.11606/T.16.2010.tde-19012011-105342.
Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16139/tde-19012011-105342/.
Acesso em: 13 jul. 2023.
KINEA. Kinea Renda
Imobiliária - FII: Relatório Anual 2022. 2022. Disponível em: https://www.kinea.com.br/wp-content/uploads/2023/02/KNRI_Relatorios_01-2023-1.pdf.
Acesso em: 11 jul. 2023.
LANG, S. I. Modernização do
comércio varejista: lojas de departamento e supermercados em São Paulo. São
Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 1991. v. v. 10
LYNCH, Kevin. A imagem da
cidade. 1. ed ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
MANCINI, Francine Trevisan. Sajous
architecto: presença e atuação profissional 1930-1959. 2013. Dissertação
(Mestrado - Área de Concentração: História e Fundamentos da Arquitetura e do
Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2013.
MEDAUAR, Odete. Direito
Administrativo Moderno. 22. ed. Belo Horizonte: Forum, 2020.
OLIVEIRA, Fernando Milliet. Banespa:
60 anos. São Paulo: Projeto PW, 1986.
PEIRÃO, Solange; ALVIM,
Zuleika. Mappin: setenta anos. São Paulo: Ex Libris, 1985.
QUEIROZ, A. L.; ZOET, M. Vestígios
da memória: fotografias do patrimônio arquitetônico paulista. São Paulo:
Illumina, 2017.
ROLNIK, Raquel. A cidade e a
lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São
Paulo, SP: FAPESP: Studio Nobel, 1997.
SEGAWA, Hugo M. Elisiário
Bahiana e a arquitetura art déco. Revista Projeto, [S. l.],
p. 14–22, 1984.
______. Arquiteturas no
Brasil, 1900-1990. São Paulo, SP, Brasil: EDUSP, 1998.
SESC-SP. Sesc SP vai inaugurar
12 unidades nos próximos 10 anos. 2023. Disponível em:
https://www.sescsp.org.br/sesc-sp-vai-inaugurar-12-unidades-nos-proximos-10-anos/.
Acesso em: 14 jul. 2023.
SPOSITO, Maria Encarnação
Beltrão. A gestão do território e as diferentes escalas da centralidade urbana.
Território., [S. l.], p. 27–37, 1998.
VALOR INVESTE. Vacância de
imóveis comerciais em São Paulo vai a 22,7% com pandemia. 2021. Disponível
em: https://valorinveste.globo.com/produtos/imoveis/noticia/2021/11/12/vacancia-de-imoveis-comerciais-em-sao-paulo-vai-a-227percent-com-pandemia.ghtml.
Acesso em: 11 jul. 2023.
VILLAÇA, Flávio. Sistematização
crítica da obra escrita pelo prof. Dr. Flávio José Magalhães Villaça sobre o
espaço urbano. São Paulo: Tese de livre docência FAU USP, 1989.
______. São Paulo: segregação urbana e desigualdade. Estudos
Avançados, [S. l.], v. 25, n. 71, p. 37–58, 2011. DOI: 10.1590/S0103-40142011000100004.
[1] A
história do Mappin Stores começa em 1913, em São Paulo, a partir da
divisão da Mappin & Webb, filial brasileira da tradicional loja de cristais
e prataria, fundada em 1774, em Sheffield, Inglaterra. Sua primeira loja ficava
na rua XV de novembro, mudou-se para a Praça do Patriarca em 1919 e em 1939
para o Edifício João Brícola (PEIRÃO; ALVIM, 1985) onde permaneceu até 1999, ano
de sua falência.
[2] Elisiário
Bahiana nasceu no Rio de Janeiro em 1891 em família de construtores. Formou-se
na Escola Nacional de Belas-Artes como engenheiro-arquiteto em 1920; nesta
década desenvolveu, na então capital federal, diversas obras de visibilidade.
Em 1928, Bahiana começa sua frutífera participação na Sociedade Comercial e
Construtora de São Paulo, com quem iria desenvolver notáveis edifícios na
cidade para onde se muda em 1930 (SEGAWA, 1984).
[3] Nascido
na Itália, Giovanni Briccola chegou ao Brasil em 1865 para trabalhar
como engenheiro na Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Depois dedicou-se
ao comércio, às importações, ao câmbio, ao agenciamento de imigrantes italianos
para o Brasil e à filantropia. Fez fortuna quando se tornou correspondente do
Banco de Nápoles, casa que detinha o monopólio das transferências entre os
imigrantes e suas famílias na Itália (QUEIROZ e ZOET, 2017). Após sua
naturalização, passou a se chamar João Brícola. Encontramos alguns conflitos
sobre sua biografia que pretendemos elucidar na pesquisa.
[4] Já
havia outros agrupamentos urbanos fora do triângulo histórico no começo do
século XX. Para este projeto, consideraremos como primeira centralidade
a que se estabeleceu no Morro do Chá, Vila Buarque, Higienópolis, Campos
Elísios etc., por serem espaços produzidos pela – e para a – classe de maior
renda, a classe dominante, dado seu poder de influência política e potência na
transformação do espaço.
[5] De
modo sucinto, centralidade “diz respeito aos fluxos, à fluidez, ou seja, é a expressão
da dinâmica da definição/redefinição das áreas centrais e dos fluxos no
interior da cidade” (SPOSITO, 1996 p.21, apud BOVO; OLIVEIRA, 2014, grifo
nosso); centro é um espaço geográfico que permite “uma coordenação das
atividades urbanas, uma identificação simbólica e ordenada dessas atividades e
daí, a criação das condições necessárias à comunicação entre os atores”
(CASTELLS, 2009, p.315).
[6] O
SESC tem por finalidade proporcionar cultura, esporte e recreação, priorizando
o trabalhador do comércio e sua família; junto a outras instituições como o
SENAC, SENAI e SESI, forma o chamado Sistema S, onde cada um tem um
enfoque em um campo específico, mas todas com personalidade jurídica e
finalidades similares. Não fazem parte da administração direta ou indireta e
tem seus recursos oriundos de fundos recolhidos das folhas de pagamentos das
empresas (MEDAUAR, 2018, p. 89).
[7] São
atribuídas ao litógrafo francês Jules Victor André Martin a idealização e a viabilização
do viaduto que ligou, em nível, o final da Rua Direita à rua Barão de
Itapetininga, do outro lado do vale, ambas na mesma cota.
[8] A
princípio foi idealizado com recursos privados, mas o custeio da sua construção
logo passou para o poder público através da municipalidade e do governo
estadual (HEREÑÚ, op.cit.).
[9] João
Brícola construiu na praça Antônio Prado sua residência, conhecida, portanto, como
Palacete João Brícola [onde hoje está o Edifício Altino Arantes]. Faleceu em
1914 deixando o Palacete, imóveis e metade de sua fortuna para a Santa Casa de
Misericórdia. Para a instituição, Brícola é referenciado como “o maior doador
de todos os tempos” (CARNEIRO, 1986, p. 715).
[10] Em
1936, o BANESPA estava interessado na construção de uma nova sede. A diretoria
determinou que o lugar ideal seria justamente o lote ocupado pelo Palacete João
Brícola, na praça Antônio Prado. Pelo Palacete, o BANESPA ofereceu à Santa Casa
outros lotes na Praça Ramos de Azevedo, exatamente em frente ao Teatro
Municipal, o que foi aceito. No local do antigo Palacete, onze anos depois, em 1947,
o banco inaugurou o Edifício Altino Arantes (OLIVEIRA, 1986), ainda conhecido por
muitos como Prédio do BANESPA.
[11] A
Santa Casa de Misericórdia é uma tradicional organização assistencial para onde
convergiam as elites com finalidades de praticar a caridade através de uma instituição
que lhes garantia reconhecimento e prestígio, perante Deus e a sociedade. É uma
das mais antigas instituições do país, seus primeiros registros em São Paulo
são de 1562 (CARNEIRO, 1986 v.1). Ao longo dos séculos acumulou grande
patrimônio imobiliário, fruto de doações, cuja renda dos aluguéis é destinada
às suas atividades assistenciais.
[12] Elisiário
Bahiana classificava o próprio trabalho como “moderno, ao gênero Perret”
e sua clientela como “futurista” como explicou em entrevista a Hugo
Segawa (1984, apud MANCINI, 2013, p. 186). Ainda não era corrente o termo art
déco, que nascera pouco antes, originado da Exposition Internationale
des Arts Décoratifs et Industrieis Modernes, em Paris no ano de 1925.
[13] Note-se
que entre 1964 e 1985 o país estava sob o regime militar.
[14] Em
2019 a vacância de imóveis comerciais em São Paulo, era de 8,9% (VALOR INVESTE,
2023); de acordo o relatório do fundo imobiliário KINEA (2023) a taxa em
janeiro de 2022 estava em 23,13%. São números generalistas, que certamente
merecem de detalhamento por região, mas apontam para o crescimento da vacância
na cidade.
[15] Como
o Programa de Atuação em Cortiços, PAC, do governo estadual; Programa de
Arrendamento Residencial, PAR, da Caixa Econômica Federal – CEF; Programa de
Locação Social (BOMFIM, 2004) e o Renova Centro da Prefeitura de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário