Arquivo do blog

segunda-feira, 24 de julho de 2023

DO MAPPIN AO SESC: O EDIFÍCIO JOÃO BRÍCOLA E O CENTRO DE SÃO PAULO

Projeto de pesquisa apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, como requisito do processo seletivo para vagas do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo: Mestrado; área de concentração: história e fundamentos da arquitetura e do urbanismo; linha de pesquisa: memória, práticas e representações.

 

RESUMO

 A pesquisa pretende contar e analisar a história do Edifício João Brícola, também conhecido como “prédio do Mappin” por ter abrigado, por décadas, a famosa loja de departamentos no centro de São Paulo; analisar sua arquitetura e seu autor, o arquiteto Elisiário Antônio da Cunha Bahiana, considerando-os como importantes representantes da história e da identidade do centro da cidade; sugerir que seu recente fechamento induz à reflexão sobre o quadro que contrasta a ociosidade dos edifícios com a vulnerabilidade social, tão latentes naquela área; a partir da sua aquisição pelo SESC, refletir sobre alterações de uso como parte das dinâmicas de mudanças socioeconômicas e urbanas do próprio centro; sugerir também que a história do edifício, relacionada com a fundamentação teórica e conceitual, pode habilitá-lo como signo dos processos de elitização, popularização e esvaziamento imobiliário que se observou no centro após o surgimento de novas centralidades na cidade de São Paulo.

 

Palavras-chave: João Brícola. Mappin. SESC. Vacância.


1.       INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O encerramento das portas do Edifício João Brícola em 03 de março de 2023 teve grande repercussão na imprensa paulistana. Não era apenas mais uma loja que fechava em São Paulo, mas um ícone do comércio de rua, personagem relevante na história recente do centro da cidade. Foi o fim do contrato de sua última inquilina, a Casas Bahia, que ali permaneceu por 19 anos. Não obstante, o edifício ainda é lembrado como prédio do Mappin[1], referência nacional, por muitas décadas em lojas de departamentos. O edifício que, apesar de ser um notável exemplar art déco, é mais reconhecido pelo seu uso do que por seus atributos estéticos; está localizado na praça Ramos de Azevedo, a poucos metros do Viaduto do Chá, um dos principais cartões postais da cidade, ambos projetos do mesmo arquiteto, Elisiário Antônio da Cunha Bahiana[2].

O abaixar das portas nos convida a reflexões pelas várias camadas de simbolismo que contém. O prédio que atraiu gerações dinamizando o espaço urbano, hoje evoca a incerteza, não de si – que parece ter garantida a sua salvaguarda –, mas da relação do homem com o espaço público tradicional, com o comércio de rua, com as calçadas; até finalmente tomarmos consciência da contradição entre a ociosidade atual de tantos imóveis em meio à indigna condição de vulnerabilidade daqueles que habitam suas marquises, alegoria da brutal desigualdade social que assombra nossa sociedade. Portanto, questões que extrapolam a concretude de suas paredes e nos conduzem a uma abordagem ontológica do prédio.

Sugerimos que o edifício é um marco relevante na imagem da cidade e na memória coletiva do paulistano; situado em uma praça importante e local de grande convergência de pessoas ao longo dos últimos 90 anos. O edifício, usado unicamente como comércio de varejo, pode ser considerado também como um símbolo do capitalismo, numa megacidade moldada por este; está ligado à história da elite paulistana, do seu êxito econômico, das instituições, da urbanização avassaladora etc. Neste projeto, propomos um recorte que, apesar de cronologicamente ampliado, está restrito aos atores-chave na trajetória do prédio e ao território imediato em que está inserido.

Há contribuições importantes sobre a produção do arquiteto Elisiário Bahiana, (cf. SEGAWA, 1984; Id. 1998; MANCINI, 2013), todavia, nos deparamos com lacunas sobre o Edifício João Brícola[3], que pretendemos ajudar a preencher com esta pesquisa.

Usando parte do instrumental conceitual trabalhado por Kevin Lynch (1997), vias, limites, pontos nodais e marcos, elementos com os quais o autor elabora a ideia de imagem da cidade enquanto construção coletiva, podemos enquadrar nosso objeto de estudo como um marco, no perímetro de um grande ponto nodal, a Praça Ramos e todo o Vale do Anhangabaú; sendo o vale também um limite entre o centro velho e o centro novo. Nosso marco fica centralizado exatamente na junção de vias históricas, elo entre dois “tempos” da cidade, a Rua Barão de Itapetininga e a Rua Direita, se considerarmos o Viaduto do Chá como seu prolongamento. Conforme Lynch, visões amplas em sítios urbanos são convites ao desfrute, à surpresa, ao encantamento e pode-se afirmar que a conformação do Vale do Anhangabaú causa justamente esse efeito em quem percorre seus viadutos, mirantes ou a grande esplanada. É nesse local extraordinário, indutor de imaginabilidade e de legibilidade, que nosso edifício está inserido e é elemento de destaque em um conjunto arquitetônico de grande relevância para a imagem e identidade da cidade.

Ainda para Lynch, identidade “implica na sua diferenciação de outras coisas, seu reconhecimento enquanto entidade separável” (ibid. p. 9). Além da imagem, como construção coletiva, há um conjunto de elementos que conferem essa identidade a um espaço, desde os sons da rua; caminhos que, de tanto percorrermos, tornam-se familiares; as histórias orais dos mais velhos sobre banalidades do cotidiano daquele espaço: lembranças, como pontua Ecléa Bosi (2003). Além disso, sugerimos que a identidade pode ser decorrente da relação afetiva pelo uso que um indivíduo ou um grupo faz de um logradouro ou de um prédio, simplesmente. As lembranças que temos de visitar uma sorveteria com nossa mãe, nosso avô, amigos, na longínqua infância, ou com nossos filhos, quando ainda eram crianças, são valiosas, independente dos atributos materiais do lugar. Especialmente quando o espaço é imutável por várias gerações, como o caso do nosso objeto de pesquisa. Com diversas pessoas mais velhas com quem conversamos sobre o Mappin, foi comum que a resposta viesse acompanhada de um sorriso, revestindo uma lembrança familiar. As respostas envolviam memórias detalhadas das seções da loja e seus andares, a dinâmica de circulação e ocupação pelo público, o dia da semana favorito, os cheiros etc. Todos esses aspectos ajudam a construir uma memória individual e coletiva, e que fomentam o valor simbólico que atribuímos a um prédio ou a um espaço que, não raro, se sobrepõem ao valor estético e material, o que acreditamos ser o caso do Edifício João Brícola, ainda que este esteja longe da irrelevância enquanto exemplar arquitetônico.

Além dos atributos visuais e memorialísticos que promovem sua identidade, sugerimos que o edifício é também representante de um outro processo muito peculiar. São Paulo, viveu – e vive – um espraiamento de sucessivos vetores de expansão imobiliária. Em uma lógica capitalista, a produção do espaço na cidade moderna é impulsionada pelo lucro e é de se esperar que em uma cidade com extraordinária convergência de capital e de interesses interferindo na política, a profusão desses vetores seja, portanto, proporcional (cf. ROLNIK, 1997; FRÚGOLI-JR, 1995; Id. 2000). Essa primeira expansão da cidade[4] ocorreu na segunda metade do século XIX, no exato local onde o Prédio João Brícola foi construído décadas depois. Para aquela área, na primeira metade do século XX, iriam convergir instituições e um comércio voltado às elites, à exemplo do Mappin Stores. A história dessa expansão inicial é, portanto, indissociável da história do Edifício João Brícola, um importante ator nessa primeira, das várias ondas de centralidades[5] que se sucederam e ajudaram a expandir São Paulo. Histórias que retomaremos mais à frente.

Neste projeto, para que priorizássemos aspectos mais contextuais e justificativos, optamos por abordar alguns agentes e conceitos relacionados à pesquisa em notas de rodapé, o que não lhes confere caráter secundário; na pesquisa, certamente ocuparão várias páginas ou capítulos inteiros.

1.1.    Delimitações

Partindo do princípio de que o espaço urbano é um produto social, ou seja, é socialmente construído, não simplesmente dado pela natureza e que com o avanço da análise através da lente do materialismo histórico, é que se pôde avançar na compreensão da geografia além da simples descrição do espaço físico (VILLAÇA, 2011), então para compreendermos melhor nossas cidades e seus elementos, em toda sua complexidade e camadas, um bom começo seria observar como se operaram as relações sociais e seus desdobramentos nas instituições, a integração dos diversos atores, que se posicionam e se tensionam até lograr suas satisfações. Observar um ou outro isoladamente não parece producente, é preciso que nos afastemos, para o alto e para o passado, até que se chegue em um enquadramento ideal, com uma visão panorâmica desse movimento.

Nesse sentido, como o recorte espacial, sugerimos o vetor Rua Direita e Rua Barão de Itapetininga – em cujo centro geométrico está o edifício –, por serem vias históricas, cheias de simbolismo, de forte relevância para a memória da cidade e para o comércio de rua, uma espécie de cordão umbilical entre o centro velho e novo. Neste recorte pretendemos incluir alguns prédios e logradouros na sua área de influência, que possam contribuir com a análise; como as galerias da Rua Barão de Itapetininga e da Rua 24 de maio, por exemplo. No território, trabalharemos pesquisas de campo, quantitativa e qualitativa, que fundamentem reflexões objetivas e abstratas, ou seja, uma abordagem que vá além de uma simples catalogação documental e iconográfica do edifício.

Na abordagem temporal, baseados na historiografia e na observação do espaço, sugerimos que a cronologia pode ser dividida em quatro movimentos. O primeiro deles, entre os decênios de 1930 a 1960, seria o movimento de expansão, quando a cidade extravasou seu núcleo original e que consolidou aquela nova área, além do Vale do Anhangabaú, com a chegada do comércio de elite e a valorização daquele espaço. O segundo movimento, entre 1960 e 2010, seria o da popularização, com a criação de uma nova centralidade na região da Avenida Paulista, a partir dos anos 1960, com o incremento das atividades informais e da forte corrente migratória interna (FRÚGOLI-JR, 1995). O terceiro movimento, seria o de esvaziamento, a partir de meados da década de 2010 até aos dias atuais, pós pandêmicos, quando é observado, a priori, um processo de vacância dos imóveis, com placas de aluga-se ornando quarteirões quase inteiros. Finalmente, concomitantemente e se tensionando com o terceiro movimento, temos o quarto, a resistência, aonde agentes públicos e privados, conscientes do patrimônio ocioso, buscam soluções.

O Edifício João Brícola acompanhou esses movimentos, e ainda que sua arquitetura tenha se mantido quase inalterada ao longo desse período, testemunhou e se adaptou às mudanças pelas quais o centro da cidade tem passado: nasceu como uma elegante loja de departamentos, foi convertido em sede de uma loja de artigos populares e, mais recentemente, foi anunciado como a mais nova unidade do Serviço Social do Comércio – SESC[6], reforçando a vocação cultural do centro como região preferencial dos equipamentos culturais de São Paulo.

1.2.    Contextualização histórica e expansão

Segundo Frúgoli Jr. (2000), há na literatura um consenso de que que a modernização urbana está amparada na Paris da segunda metade do século XIX. Ali, a industrialização foi acompanhada de um significativo aumento populacional com a chegada de camponeses que passaram a compor a massa urbana e que resultou numa uma intervenção em larga escala, sob o comando do barão de Hausmann, alterando-a profundamente, reforma que é, até hoje, referência na história do urbanismo. Cabe ressaltar aqui um novo paradigma, a articulação inédita do urbanismo com alianças estratégicas entre o poder público e setores do capital, favorecendo a especulação imobiliária e o capital financeiro. É curioso perceber que nesse mesmo período, São Paulo, até então uma pequena cidade, viveria a partir daí situações parecidas, guardadas as proporções. O ciclo do café mudaria a cidade para sempre, proporcionando uma grande atração populacional, de capital e uma intrincada relação entre interesses privados e públicos.

Desde sua fundação, em 1554, até a primeira metade do século XIX, podemos dizer, grosso modo, que a cidade de São Paulo estava encaixada em seu sítio inicial conhecido como triângulo histórico. Com o surto cafeeiro, essa configuração começou a se alterar (HEREÑÚ, 2007).  Novo arruamentos tomaram os vales e a cidade ultrapassou esse perímetro inicial. O Vale do Anhangabaú, era consideravelmente mais fácil de transpor do que o vale do Tamanduateí e a expansão para esta direção parecia a mais natural. Transpor o vale através de uma passagem em nível, era então uma necessidade e, em 1892, São Paulo inaugurava, assim, o primeiro dos seus incontáveis viadutos, o Viaduto do Chá[7], e pôde então conquistar o Oeste. Coube prioritariamente às classes de maior renda a ocupação dessa nova área, que de tão próxima ao centro, passou a ser chamada centro novo. “Nesta nova configuração a localização do vale [do Anhangabaú] passou a ser central. Um grande espaço vazio no coração da cidade, respiro entre as estreitas ruas do centro velho e as pujantes construções do centro novo” (Ibid., p. 61).

As atenções da cidade convergiram para o Vale do Anhangabaú naquele momento e é interessante notar o jogo de “interesse dos grupos dominantes na construção dos espaços de representação do desenvolvimento econômico e social proporcionado pela cultura do café” (Ibid., p.65).

Seguiram-se, entre 1890 e 1911, diversas propostas para o espaço que sempre procuravam atender aos interesses dos proprietários de terras nas cercanias do vale. Acabou-se encomendando o projeto de autoria do urbanista francês Joseph Antoine Bouvard e, assim, o Vale do Anhangabaú ganhou seu primeiro projeto de urbanização e se tornou o novo jardim da cidade, finalizado em 1917. Em 1911 foi inaugurado, no lugar então conhecido como Morro do Chá, o novo Teatro Municipal, inicialmente concebido pela elite paulistana como uma casa de espetáculos que refletisse sua ambição de refinamento cultural[8].

No centro novo, até o começo dos anos 1930, prevaleciam edificações de pequeno porte, a partir desse momento a região começou a ganhar prédios maiores; o antigo Viaduto do Chá, em estrutura metálica, estava ficando incompatível com a crescente demanda e, em 1934, foi realizado um concurso público para o projeto de um novo viaduto. O projeto escolhido propunha uma ligação totalmente em concreto com o dobro da largura; a obra arrojada para a época fortaleceu a ligação entre o centro velho e o centro novo e estimulou a ocupação e verticalização além do vale. O autor da proposta vencedora foi o arquiteto Elisiário Bahiana.

Com a ligação consolidada e com o automóvel já onipresente, as distâncias agora já não eram problema e ajudaram a encurtar o tempo de vida dos imóveis do centro velho (VILLAÇA, 1989). O centro novo viveria seu período de ouro; aquela parte da cidade se verticalizava e atraia investimentos tanto do setor privado quanto do público; inúmeros prédios de grande porte passaram a ser construídos e outras lojas “elegantes” se fixaram na rua Barão de Itapetininga e adjacências constituindo a nova região de circulação da elite e o começo da popularização do comercio no triângulo central” (LANG, 1991 apud FRÚGOLI-JR, 1995 p. 27).

É nesse contexto que, em 1936, o Mappin Stores começava a planejar a mudança do seu antigo endereço na Praça do Patriarca. A princípio, procurou o Palacete João Brícola[9], na Praça Antônio Prado, mas chegou tarde; o Banco do Estado de São Paulo - BANESPA já havia adquirido o imóvel[10] que pertencia à Santa Casa de Misericórdia[11] (OLIVEIRA, 1986); esta, por sua vez, lhe ofereceu um prédio que idealizava construir do outro lado do Vale, na praça Ramos de Azevedo. Estabelecer-se do outro lado do Anhangabaú ainda era, naquele tempo, uma ousadia; mas o Mappin Stores muniu-se da coragem necessária, topou negócio, cruzou o vale (PEIRÃO; ALVIM, 1985) – levando seu icônico relógio –, e inaugurou, em 1939, sua nova loja no centro novo, sua casa pelos próximos 60 anos. No projeto inicial, os primeiros cinco pavimentos seriam destinados à loja e os demais a escritórios; porém o Mappin acabou usando todos os andares e ainda propôs, em 1944, a construção de mais um pavimento, o que foi negado pela Santa Casa (CARNEIRO, 1986).

O prédio art déco, arquitetura futurista[12] na época, foi executado em estrutura de concreto armado pela Sociedade Comercial e Construtora; possui 14 pavimentos e um subsolo, totalizando 12.359 m² de área construída; era, naquele momento, um dos maiores da cidade. O projeto moderno de Elisiário Bahiana impôs-se altivamente – e harmoniosamente – ao ecletismo do Teatro Municipal; ainda que de estilos distintos, há um certo diálogo na simetria e na semelhança de cores das fachadas. Há diferenças entre os desenhos iniciais de Bahiana e o executado, indicando alguma simplificação e despojamento na fachada, talvez a pedido da contratante, o que elucidaremos na pesquisa.

O período de ouro duraria muito tempo. No decênio de 1960 entra em cena outro eixo que reivindicaria o protagonismo da cidade, a Av. Paulista e, a partir de então, começaria o declínio desse primeiro vetor de expansão imobiliária de São Paulo.

1.3.    Popularização

Entre os decênios de 1960 e 1990 houve um grande deslocamento das elites, acompanhadas pelo comércio e serviços para a novas regiões do quadrante sudoeste, em especial a região da Avenida Paulista (ROLNIK, 1997); o poder público acompanhou esse processo, dando suporte indireto ao mercado imobiliário através de investimentos urbanos estruturais – até o gabinete do prefeito foi para o Parque Ibirapuera, na década de 1950, e o do governador para o bairro do Morumbi, na década de 1960 (VILLAÇA, 1989).

Flávio Villaça (2011) oferece uma perspectiva interessante que ajuda a compreender a concentração das elites nesse quadrante. Para ele o tempo de deslocamento é um dos maiores fatores na construção e reprodução do espaço urbano segregado. O tempo de deslocamento entre o lar e o trabalho é o que ajuda a explicar a concentração da classe dominante nessa mesma região da cidade e não espalhada em bolsões em todos os quadrantes; a classe dominante vive e trabalha na mesma região, diferente dos mais pobres. E na luta pelo espaço, como não caberiam todos no mesmo lugar, vence o mais forte, e é ele quem determina onde serão feitas suas casas, seu trabalho e sua diversão; aos mais pobres, cabe o espaço que restar, normalmente afastado. Portanto, uma tese que se soma ao senso comum de que o principal elemento segregador é simplesmente a violência ou o elitismo, tão bem representados pelo condomínio fechado ou o shopping center. Para o autor, o homem não consegue controlar o tempo, mas consegue controlar o espaço.

De acordo com Beatriz Kara-José (2010), esse processo de deslocamento das elites contribuiu com uma grande transformação no centro e sua consequente sua popularização, amplamente referida como deterioração ou degradação, segundo a autora, termos imbuídos de caráter ideológico. A região passou a receber um contingente cada vez maior de pessoas de classes populares, boa parte do qual composta por migrantes de outros estados, principalmente da região nordeste (FRÚGOLI-JR, 1995); muitos passaram a desenvolver atividades informais como estratégia de sobrevivência, concomitantemente viu-se a deterioração de parte de seus equipamentos urbanos e o declínio de seu valor imobiliário. Heitor Frúgoli-Jr frisa que não é possível afirmar que a popularização foi o determinante para essa degradação do espaço público, mas que aconteceu em paralelo (idem, 2000). Sugere que políticas escassas, erráticas e um “contexto autoritário[13], acarretou [...] obras descabidas e predatórias” (ibid., p.58), que contribuíram para essa degradação, como o Elevado Costa e Silva [Minhocão] – atual Elevado João Goulart – e a antiga Praça Roosevelt, por exemplo.

Em nossa interpretação, o termo popular, empregado pelos autores, entende-se como atributo de grupos sociais com pouco capital econômico, social e cultural, usando a perspectiva bourdieusiana. Todavia, pouco capital cultural apenas se tomarmos cultura como erudição ou aquela legitimada pelas classes dominantes, já que naqueles segmentos sociais havia muita cultura, no seu sentido mais amplo. Era justamente a cultura – regional, popular, étnica, urbana, cosmopolita etc. – que atribuía identidade aos variados grupos que ali circulavam, especialmente a partir da década de 1980. Na região em torno da Rua Barão de Itapetininga, e nas suas famosas galerias, houve uma profusão de tribos, jovens pobres que recorriam “a estratégias simbólicas que lhes propiciam fazer parte da categoria de juventude, minimizando dentro do possível as diferenças decorrentes das discriminações, uma vez que suas possibilidades de consumo são muito mais precárias” (Ibid., p. 66). Eram grupos de punks, blacks, heavy-metal (metaleiros), skinheads, hip-hop, rap etc., que vinham da periferia e faziam daquele espaço um local para estabelecer suas redes de relações sociais (Ibid.). De acordo com relatos colhidos por nós para a elaboração deste projeto, aconteciam nas calçadas em frente ao Mappin, nos anos 1990, reuniões de grupos com apresentações de street dance, em batalhas, com grande público, assunto que será aprofundado na pesquisa.

Em fins do decênio de 1990, grandes lojas de varejo do país, a Mesbla, as Lojas Brasileiras e o Mappin faliram. A Mesbla fecha sua grande loja na Rua 24 de maio, que anos depois foi transformada em uma unidade do SESC. O Mappin, no Edifício João Brícola, encerrou suas portas em 1999; e em seu lugar o Grupo Pão de Açúcar abriu uma loja do supermercado Extra, que duraria 5 anos; em novembro de 2004, a Casas Bahia se tornou sua última inquilina que ali permaneceu por 19 anos, até março de 2023.

1.4.    Esvaziamento

Consideramos esvaziamento o processo crescente de vacância de imóveis, ou seja, imóveis que não estão abandonados, mas fechados ou vagos, sem uso. As taxas de vacância são indicadores úteis tanto na esfera pública quanto privada. Para a esfera pública, uma alta vacância significa baixa arrecadação de impostos, para o setor privado, a variação possibilita o direcionamento dos investimentos e aplicações de capitais e uma relação direta com a variação dos valores imobiliários (BONFIM, 2004). Poucos imóveis vazios em uma região podem significar pouca oferta, o que levará a um possível aumento do valor, o contrário, pode indicar desvalorização e consequente redução de lucros.

Atualmente, na região central a quantidade de imóveis fechados é bastante perceptível ao caminharmos na área, facilmente encontramos edifícios inteiros fechados, silêncio e ruas calmas, antes tumultuadas e barulhentas. Os motivos do esvaziamento são diversos: a obsolescência dos edifícios; a redução da circulação de pessoas; retornos não atraentes, com isso os ocupantes procuram outras áreas e proprietários, diante do custo pouco vantajosos de reformá-los, acabam fechando os imóveis esperando a gentrificação da área e evitando locar por um valor muito baixo, a um grupo de estrato social inferior ao que ocupava anteriormente. (Ibid.)

Usamos o termo esvaziamento para dar a dramaticidade necessária, mas o centro está longe de estar vazio. Lojas, escritórios e domicílios podem estar, mas as calçadas não; há, sob as marquises do Edifício João Brícola – neste momento –, famílias inteiras acampadas em barracas. Note-se que não é o mesmo que consideramos anteriormente como popularização, mas sim, pessoas em grave situação de miséria. Em São Paulo, como nas grandes metrópoles brasileiras, a desigualdade tem gerado uma população cada vez maior e mais vulnerável, estimada, em 2023, em 52 mil pessoas (G1, 2023), que encontram nas marquises e viadutos espalhados na cidade um abrigo de intempéries e, pela necessidade de sobrevivência, muitas convergem para o centro, atrás de esmolas, trabalhos simples e da caridade de tantos; muitas apenas sem emprego e sem perspectivas; outras em situações desumanizantes, criadas em contextos sociais desestruturantes, sem referências de cidadania, com traumas, carentes de amparo psicológico, psiquiátrico, com vícios em entorpecentes, como o crack, o álcool etc.

É importante ponderar também que a pandemia de Covid-19 alterou profundamente os paradigmas do mercado imobiliário, especialmente os comerciais[14] e seu impacto nas mais variadas esferas da sociedade merece uma abordagem aprofundada. Por ser um tema extremamente complexo, cuja literatura ainda é escassa, nos limitaremos a contribuir com pesquisas de campo quantitativa e qualitativa que forneçam alguma base de comparação da ocupação os imóveis dentro da delimitação territorial que propusemos.

1.5.    Resistência

É antiga a consciência de que o centro precisa de atenção e de políticas. Desde os anos 1990 a região tem recebido intervenções pontuais com o objetivo de requalificá-la. Algumas relativamente bem sucedidas, mas no geral paliativas. Dentre as ações destacamos: o retorno de expedientes públicos para edifícios estratégicos, como a transferência da sede da prefeitura para o Edifício Matarazzo, a Secretaria de Habitação para o Edifício Martinelli; a compra pelo governo do estado de um grande número de edifícios nas Ruas XV de novembro e Boa Vista (KARA-JOSÉ, 2010) transferindo suas repartições na tentativa de dinamizar aquela área; programas realizados entre as décadas de 2000 e 2010, com enfoque na habitação[15]; além de alterações no zoneamento são alguns exemplos na esfera pública. Todas foram medidas importantes, mas não plenamente eficazes, uma vez que são descontinuadas, desarticuladas e não alcançam a raiz do problema que parece estar, na estrutural reprodução da desigualdade social.

Os movimentos sociais por habitação também têm uma enorme relevância nessa resistência – senão a maior – enquanto indutores de reflexões na sociedade sobre a questão da escandalosa ociosidade de imóveis em contraste com a multidão de pessoas em situação de rua. Diante da enorme quantidade de edifícios inteiros fechados há anos, o número de ocupações ainda é muito pequeno mas ajuda a denunciar o problema. Segundo suas lideranças, o objetivo é chamar a atenção e clamar pela implantação de políticas habitacionais de interesse social na área central, melhorar a localização dessas habitações, ampliar o atendimento a famílias de renda entre um e três salários mínimos e maior participação dos movimentos sociais no direcionamento das políticas habitacionais (KARA-JOSÉ, 2010).

Há também movimentos como a Associação Viva o Centro, organização de entidades e empresas sediadas ou vinculadas ao centro, que procura, através de projetos e campanhas, estimular a requalificação e consequente revalorização do espaço (FRÚGOLI-JR, 2000).

Na esfera privada vimos, especialmente na Vila Buarque nos últimos anos, a vacância dar lugar a um comércio de rua bem sucedido, voltado à classe média, com variados estabelecimentos como lanchonetes, restaurantes, mercados, sorveterias, bares, livrarias e galerias de arte que começaram a aparecer nas imediações do Edifício Copan, da Praça da República, na Av. São Luís, na Rua Major Sertório etc., indicando num surto de otimismo ou de uma visão estratégica, inerente ao instinto empresarial.

Em nossa interpretação, na esteira do pensamento de Jane Jacobs (2014), a mescla de comércio, serviços e habitação, em edifícios velhos e novos, movimentando calçadas e reunindo diferentes estratos sociais parece ser uma das melhores disposições para a saúde dos espaços urbanos.

Na esfera do terceiro setor, destacamos a resistência de instituições como o Serviço Social do Comércio - SESC, que vem investindo em unidades no centro, como o SESC Carmo, Florêncio de Abreu e Consolação, e que em 2017 inaugurou a aguardada unidade na antiga loja da Mesbla, na Rua 24 de maio, depois de um cuidadoso e celebrado projeto e de uma longa reforma. Sua atenção agora se volta para uma nova unidade, anunciada com a mesma atenção na imprensa. A mudança de sua sede administrativa, a ser instalada no Edifício João Brícola, tendo reservado o térreo para atividades abertas ao público (SESC-SP, 2023).

Por fim, afirmamos ser curiosa a trajetória do edifício. Concebido como fonte de renda de aluguel por uma prestigiosa entidade sui generis de assistência social, com foco na saúde, a Santa Casa de Misericórdia, em 1939, e chega a 2023 como patrimônio de outra benquista entidade sui generis de assistência social, dessa vez com foco na cultura. Tornou-se famoso por abrigar por décadas grandes lojas e agora será destinado a ser a sede do SESC, cuja razão de existir é justamente o apoio ao trabalhador do comércio, simbólico portanto.

Ainda que as lojas de departamentos sejam uma espécie de embrião do shopping center, o formato daquelas é literalmente o inverso deste, tal qual uma meia ao avesso, onde as calçadas e vitrines foram emboladas para dentro e agora estão protegidas da chuva, da insegurança, mas também da identidade das cidades pois, seja em Porto Alegre ou Belém, todos os corredores agora são iguais, num regime rígido e previsível no qual se sabe exatamente a temperatura e a classe social que se vai encontrar.

Eis mais um motivo para celebrar, documentar e preservar um edifício como o João Brícola, concebido para ser loja de rua, com grandes panos de vitrines para exibir seus produtos, pensado no tempo em que a vida pública acontecia nas calçadas; nos faz pensar que mesmo com as diversas transformações que vivemos nas últimas décadas, dos cheques aos cartões, das calçadas para os corredores de shopping centers, ele chegou até aqui, como loja até 2023. Não é nosso objetivo aqui lamentar ou impor o passado, mas celebrá-lo, é também refletir sobre o futuro, sem cerceá-lo.

A internet expande cada vez mais sua influência e altera o comportamento humano, fazendo com que as novas gerações nem imaginem sair de casa para comprar meias, o fazem pela vitrine virtual personalizada de seus smartphones cada vez inteligentes e individualizantes.

2.       OBJETIVOS

2.1.    Produzir uma pesquisa documental e iconográfica sobre o edifício e seu autor.

2.2.    Compreender as transformações de uso e ocupação do entorno imediato ao edifício, desde sua construção aos dias atuais, destacando as transformações do comércio e da sociedade.

2.3.    Fornecer fundamentação teórica sobre conceitos como imagem da cidade, identidade, memória centralidade, expansão, elitização, popularização, esvaziamento/vacância e resistência.

2.4.    Relacionar a história do prédio com os conceitos acima, procurando habilitar a edificação como:

2.4.1. Componente importante na formação da identidade do centro de São Paulo, enquanto parte da paisagem, da memória e dinamizador do espaço urbano.

2.4.2. Representante do processo de formação de centralidades e etapas posteriores de popularização, esvaziamento e resistência.

2.4.3. Exemplar importante da arquitetura de lojas de departamentos, relacionando-o com a história do comércio na região central e suas transformações.

3.       QUESTÃO CENTRAL DA PESQUISA

Realizar um aprofundado estudo sobre o Edifício João Brícola, considerando-o como componente da identidade do centro novo da cidade, dada a sua longeva presença, tendo seu uso exclusivo como espaço comercial ao longo de 90 anos, sem que sua arquitetura tenha sido alterada e, aprofundando seu poder representativo, habilitar o prédio também como símbolo das transformações que se sucedem em São Paulo desde a segunda metade do século XIX, onde a expansão e elitização promovidas pelo mercado imobiliário parecem ser sucedidas pelos processos sequenciais de popularização, ociosidade e resistência. E ainda, à luz de sua aquisição pelo SESC, afirmar que tal representatividade lhe confira prestígio entre o acervo arquitetônico e histórico da cidade.

4.       MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho será desenvolvido com base em diferentes metodologias: pesquisas em acervos institucionais, como o da FAU USP, que detém 69 projetos de Elisiário da Cunha Bahiana, entre eles o referente ao Edifício João Brícola, e o Arquivo Público da Cidade de São Paulo; em revistas de época e hemerotecas, como a da Biblioteca Nacional e da Biblioteca Mario de Andrade; entrevistas com antigos frequentadores do Mappin Stores; visitas ao local; bibliografia existente na biblioteca da FAU USP sobre o edifício, seu autor e temas relacionados ao centro da cidade e sua evolução urbana. As atividades serão desenvolvidas conforme o detalhamento a seguir:

4.1.    Levantar conteúdo historiográfico e iconográfico sobre os agentes envolvidos na história do edifício como o Sr. João Brícola, o BANESPA, A Santa Casa de Misericórdia, o arquiteto Elisiário Bahiana, o Mappin, as Casas Bahia, a mídia, a prefeitura e o SESC-SP.

4.2.    Levantamento de documentação e iconografia de modo a compreender o contexto de contratação do arquiteto, as premissas e escopos recebidos pela Santa Casa de Misericórdia e modificações que o edifício sofreu ao longo do tempo.

4.3.    Interlocução e entrevistas com frequentadores do edifício e com pessoas que vivenciaram aquele espaço, nas Ruas Direita e Barão de Itapetininga e suas imediações, ao longo das últimas décadas.

4.4.    Fundamentação teórica, através de revisão bibliográfica com autores e conceitos que versem sobre a imagem da cidade, identidade, memória e valor simbólico de um espaço ou prédio através do uso coletivo que uma sociedade faz dele. Assim como examinar conceitos como centralidade, elitização, popularização, esvaziamento/vacância e resistência.

4.5.    Elaborar uma revisão bibliográfica que aborde a formação da área em que está inscrito o edifício – Praça Ramos, Vale do Anhangabaú, Ruas Direita e Barão de Itapetininga –, passando pela formação da centralidade da Av. Paulista, usando como recorte temporal os anos de 1890 até 2023, com enfoque histórico e sociológico, incluindo teorizações e desdobramentos e sobre a pandemia de Covid-19.

4.6.    Pesquisa ao longo do vetor Rua Direita e Barão de Itapetininga dados relativos à vacância dos imóveis.

5.       FORMA DE ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1.          Os conceitos, definidos pela bibliografia, serão articulados com dados historiográficos, com dados qualitativos e quantitativos do trabalho de campo (levantamento documental, interlocuções, entrevistas e resultado de pesquisas), estabelecendo possíveis diálogos, a fim de confirmar integralmente ou em partes as premissas e argumentações aqui propostas.

5.2.    De forma mais específica, parte dos resultados da pesquisa também poderão ser analisados em artigo científico que o autor se compromete a submeter à revista indexada.

6.       PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA

6.1.    Cumprimento dos créditos exigidos pelo programa de pós-graduação.

 

6.2.    Levantar conteúdo historiográfico e iconográfico do edifício.

6.3.    Levantar conteúdo historiográfico e iconográfico dos atores envolvidos na história do edifício.

6.4.    Revisão bibliográfica historiográfica do sítio com enfoque histórico e sociológico.

6.5.    Pesquisa de campo qualitativa e quantitativa nas ruas Direita e Barão de Itapetininga.

6.6.    Revisão bibliográfica e sistematização das informações levantadas acerca dos conceitos de imagem da cidade, identidade, memória e valor simbólico, centralidade, elitização, popularização etc.

6.7.    Comparação dos resultados provenientes dos itens acima descritos.

6.8.    Estruturação da pesquisa e redação do projeto de qualificação.

6.9.    Revisão e entrega do projeto de qualificação.

6.10.    Redação, revisão e complementação da dissertação.

6.11   Entrega e defesa da dissertação.


7.       REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOMFIM, Valéria Cusinato. Os espaços edificados vazios na área central da cidade de São Paulo e a dinâmica urbana. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Construção Civil e Urbana) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. DOI: 10.11606/D.3.2004.tde-26052004-103020. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-26052004-103020/. Acesso em: 17 jul. 2023.

BOSI, Ecléa. Memória da cidade: lembranças paulistanas. Estudos Avançados, [S. l.], v. 17, n. 47, p. 198–211, 2003. DOI: 10.1590/S0103-40142003000100012.

BOVO, Marcos Clair; OLIVEIRA, Michelli Alvares De. Centro e Centralidade Urbana: Uma análise da pequena cidade de Peabiru (PR), Brasil. Caderno Prudentino de Geografia, [S. l.], v. 3, n. 36, p. 104–123, 2014.

CARNEIRO, Glauco. O poder da misericórdia: Irmandade da Santa Casa na história social e política da cidade de São Paulo, 1560-1985. São Paulo: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, 1986. a. v. 1

______. O poder da misericórdia: Irmandade da Santa Casa na história social e política da cidade de São Paulo, 1560-1985. São Paulo: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, 1986. b. v. 2

CASTELLS, Manuel. A questão urbana. 4. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

FRÚGOLI-JR, Heitor. São Paulo: espaços públicos e interação social. São Paulo, SP: Marco Zero : SESC, 1995.

______. Centralidade em São Paulo: trajetórias, conflitos e negociações na metrópole. São Paulo, SP: Edusp, 2000.

G1. Cidade de SP contabiliza mais de 52 mil moradores de rua, alta de 8,2% em 2023, afirma pesquisa. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/04/05/cidade-de-sp-contabiliza-mais-de-52-mil-moradores-de-rua-alta-de-82percent-em-2023-afirma-pesquisa.ghtml. Acesso em: 11 jul. 2023.

HEREÑÚ, Pablo Emilio Robert. Sentidos do Anhangabaú. 2007. Dissertação (Mestrado - História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. DOI: 10.11606/D.16.2007.tde-17052010-145047. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-17052010-145047/. Acesso em: 18 jul. 2023.

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 3. ed ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

KARA-JOSÉ, Beatriz. A popularização do centro de São Paulo: um estudo de transformações ocorridas nos últimos 20 anos. 2010. Tese (Doutorado em Planejamento Urbano e Regional) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. DOI: 10.11606/T.16.2010.tde-19012011-105342. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16139/tde-19012011-105342/. Acesso em: 13 jul. 2023.

KINEA. Kinea Renda Imobiliária - FII: Relatório Anual 2022. 2022. Disponível em: https://www.kinea.com.br/wp-content/uploads/2023/02/KNRI_Relatorios_01-2023-1.pdf. Acesso em: 11 jul. 2023.

LANG, S. I. Modernização do comércio varejista: lojas de departamento e supermercados em São Paulo. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 1991. v. v. 10

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. 1. ed ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

MANCINI, Francine Trevisan. Sajous architecto: presença e atuação profissional 1930-1959. 2013. Dissertação (Mestrado - Área de Concentração: História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 22. ed. Belo Horizonte: Forum, 2020.

OLIVEIRA, Fernando Milliet. Banespa: 60 anos. São Paulo: Projeto PW, 1986.

PEIRÃO, Solange; ALVIM, Zuleika. Mappin: setenta anos. São Paulo: Ex Libris, 1985.

QUEIROZ, A. L.; ZOET, M. Vestígios da memória: fotografias do patrimônio arquitetônico paulista. São Paulo: Illumina, 2017.

ROLNIK, Raquel. A cidade e a lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo, SP: FAPESP: Studio Nobel, 1997.

SEGAWA, Hugo M. Elisiário Bahiana e a arquitetura art déco. Revista Projeto, [S. l.], p. 14–22, 1984.

______. Arquiteturas no Brasil, 1900-1990. São Paulo, SP, Brasil: EDUSP, 1998.

SESC-SP. Sesc SP vai inaugurar 12 unidades nos próximos 10 anos. 2023. Disponível em: https://www.sescsp.org.br/sesc-sp-vai-inaugurar-12-unidades-nos-proximos-10-anos/. Acesso em: 14 jul. 2023.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A gestão do território e as diferentes escalas da centralidade urbana. Território., [S. l.], p. 27–37, 1998.

VALOR INVESTE. Vacância de imóveis comerciais em São Paulo vai a 22,7% com pandemia. 2021. Disponível em: https://valorinveste.globo.com/produtos/imoveis/noticia/2021/11/12/vacancia-de-imoveis-comerciais-em-sao-paulo-vai-a-227percent-com-pandemia.ghtml. Acesso em: 11 jul. 2023.

VILLAÇA, Flávio. Sistematização crítica da obra escrita pelo prof. Dr. Flávio José Magalhães Villaça sobre o espaço urbano. São Paulo: Tese de livre docência FAU USP, 1989.

______. São Paulo: segregação urbana e desigualdade. Estudos Avançados, [S. l.], v. 25, n. 71, p. 37–58, 2011. DOI: 10.1590/S0103-40142011000100004.


[1] A história do Mappin Stores começa em 1913, em São Paulo, a partir da divisão da Mappin & Webb, filial brasileira da tradicional loja de cristais e prataria, fundada em 1774, em Sheffield, Inglaterra. Sua primeira loja ficava na rua XV de novembro, mudou-se para a Praça do Patriarca em 1919 e em 1939 para o Edifício João Brícola (PEIRÃO; ALVIM, 1985) onde permaneceu até 1999, ano de sua falência.

[2] Elisiário Bahiana nasceu no Rio de Janeiro em 1891 em família de construtores. Formou-se na Escola Nacional de Belas-Artes como engenheiro-arquiteto em 1920; nesta década desenvolveu, na então capital federal, diversas obras de visibilidade. Em 1928, Bahiana começa sua frutífera participação na Sociedade Comercial e Construtora de São Paulo, com quem iria desenvolver notáveis edifícios na cidade para onde se muda em 1930 (SEGAWA, 1984).

[3] Nascido na Itália, Giovanni Briccola chegou ao Brasil em 1865 para trabalhar como engenheiro na Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Depois dedicou-se ao comércio, às importações, ao câmbio, ao agenciamento de imigrantes italianos para o Brasil e à filantropia. Fez fortuna quando se tornou correspondente do Banco de Nápoles, casa que detinha o monopólio das transferências entre os imigrantes e suas famílias na Itália (QUEIROZ e ZOET, 2017). Após sua naturalização, passou a se chamar João Brícola. Encontramos alguns conflitos sobre sua biografia que pretendemos elucidar na pesquisa.

[4] Já havia outros agrupamentos urbanos fora do triângulo histórico no começo do século XX. Para este projeto, consideraremos como primeira centralidade a que se estabeleceu no Morro do Chá, Vila Buarque, Higienópolis, Campos Elísios etc., por serem espaços produzidos pela – e para a – classe de maior renda, a classe dominante, dado seu poder de influência política e potência na transformação do espaço.

[5] De modo sucinto, centralidade “diz respeito aos fluxos, à fluidez, ou seja, é a expressão da dinâmica da definição/redefinição das áreas centrais e dos fluxos no interior da cidade” (SPOSITO, 1996 p.21, apud BOVO; OLIVEIRA, 2014, grifo nosso); centro é um espaço geográfico que permite “uma coordenação das atividades urbanas, uma identificação simbólica e ordenada dessas atividades e daí, a criação das condições necessárias à comunicação entre os atores” (CASTELLS, 2009, p.315).

[6] O SESC tem por finalidade proporcionar cultura, esporte e recreação, priorizando o trabalhador do comércio e sua família; junto a outras instituições como o SENAC, SENAI e SESI, forma o chamado Sistema S, onde cada um tem um enfoque em um campo específico, mas todas com personalidade jurídica e finalidades similares. Não fazem parte da administração direta ou indireta e tem seus recursos oriundos de fundos recolhidos das folhas de pagamentos das empresas (MEDAUAR, 2018, p. 89).

[7] São atribuídas ao litógrafo francês Jules Victor André Martin a idealização e a viabilização do viaduto que ligou, em nível, o final da Rua Direita à rua Barão de Itapetininga, do outro lado do vale, ambas na mesma cota.

[8] A princípio foi idealizado com recursos privados, mas o custeio da sua construção logo passou para o poder público através da municipalidade e do governo estadual (HEREÑÚ, op.cit.).

 

[9] João Brícola construiu na praça Antônio Prado sua residência, conhecida, portanto, como Palacete João Brícola [onde hoje está o Edifício Altino Arantes]. Faleceu em 1914 deixando o Palacete, imóveis e metade de sua fortuna para a Santa Casa de Misericórdia. Para a instituição, Brícola é referenciado como “o maior doador de todos os tempos” (CARNEIRO, 1986, p. 715).

[10] Em 1936, o BANESPA estava interessado na construção de uma nova sede. A diretoria determinou que o lugar ideal seria justamente o lote ocupado pelo Palacete João Brícola, na praça Antônio Prado. Pelo Palacete, o BANESPA ofereceu à Santa Casa outros lotes na Praça Ramos de Azevedo, exatamente em frente ao Teatro Municipal, o que foi aceito. No local do antigo Palacete, onze anos depois, em 1947, o banco inaugurou o Edifício Altino Arantes (OLIVEIRA, 1986), ainda conhecido por muitos como Prédio do BANESPA.

[11] A Santa Casa de Misericórdia é uma tradicional organização assistencial para onde convergiam as elites com finalidades de praticar a caridade através de uma instituição que lhes garantia reconhecimento e prestígio, perante Deus e a sociedade. É uma das mais antigas instituições do país, seus primeiros registros em São Paulo são de 1562 (CARNEIRO, 1986 v.1). Ao longo dos séculos acumulou grande patrimônio imobiliário, fruto de doações, cuja renda dos aluguéis é destinada às suas atividades assistenciais.

[12] Elisiário Bahiana classificava o próprio trabalho como “moderno, ao gênero Perret” e sua clientela como “futurista” como explicou em entrevista a Hugo Segawa (1984, apud MANCINI, 2013, p. 186). Ainda não era corrente o termo art déco, que nascera pouco antes, originado da Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industrieis Modernes, em Paris no ano de 1925.

[13] Note-se que entre 1964 e 1985 o país estava sob o regime militar.

[14] Em 2019 a vacância de imóveis comerciais em São Paulo, era de 8,9% (VALOR INVESTE, 2023); de acordo o relatório do fundo imobiliário KINEA (2023) a taxa em janeiro de 2022 estava em 23,13%. São números generalistas, que certamente merecem de detalhamento por região, mas apontam para o crescimento da vacância na cidade.

[15] Como o Programa de Atuação em Cortiços, PAC, do governo estadual; Programa de Arrendamento Residencial, PAR, da Caixa Econômica Federal – CEF; Programa de Locação Social (BOMFIM, 2004) e o Renova Centro da Prefeitura de São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Escolas da visão

Ideia Central do Texto: O texto explora os principais debates entre duas correntes de pensamento na análise da arte: a Escola da Pura Visua...