Jens Baumgarten e André Tavares
O artigo "O Barroco colonizador: a produção historiográfico-artística no Brasil e suas principais orientações teóricas", de Jens Baumgarten e André Tavares, oferece uma análise aprofundada sobre a complexidade das interações entre a arte colonial e o barroco no Brasil. A obra destaca a evolução dos conceitos e práticas associadas ao barroco e à arte colonial, explorando suas implicações teóricas e metodológicas na historiografia da arte brasileira.
Introdução ao Barroco e à
Arte Colonial no Brasil
No início do artigo, os autores
destacam que os discursos pós-modernos e pós-coloniais abriram novos espaços
para publicações de áreas geográficas que por muito tempo foram consideradas
secundárias na historiografia europeia e norte-americana. Essa mudança permitiu
que objetos produzidos fora do cânone ocidental, como a arte colonial
brasileira, fossem integrados em uma história da arte mundial. A partir desse
cenário, o artigo busca repensar as consequências teóricas e metodológicas para
a arte colonial, ou a chamada arte barroca, no Brasil.
O termo "barroco" é
explorado desde suas origens, destacando como ele começou a ser utilizado no
final do século XIX e se transformou em um conceito importante com as
publicações de autores como Cornelius Gurlitt e Heinrich Wölfflin. Tradicionalmente,
o período barroco é situado entre os séculos XVI e XVIII, e o artigo enfatiza
que o barroco não deve ser visto apenas como um fenômeno histórico, mas também
como uma construção historiográfica que abrange história da arte e literatura.
Análise Crítica e Revisão
Historiográfica
Os autores discutem a classificação
pejorativa inicial do barroco como "degenerescência" por Jacob
Burckhardt e como essa percepção foi desafiada e reformulada ao longo dos anos.
Enquanto Wölfflin o classificou como uma categoria estilística, outros, como
Walter Benjamin, o interpretaram como alegoria, e Germain Bazin o relacionou ao
desejo contemporâneo através do conceito de neobarroco, proposto por Omar
Calabrese.
No contexto brasileiro, o barroco foi
mais discutido na teoria e crítica literária, destacando debates entre
intelectuais como Haroldo de Campos e João Adolfo Hansen. A partir da década de
1920, com o modernismo, o barroco ganhou importância na construção da
identidade cultural brasileira, sendo reinterpretado e adotado como parte da
brasilidade.
O artigo também menciona o papel
crucial de Mário de Andrade e outros modernistas, que viajaram a Minas Gerais e
desenvolveram o conceito de uma arte brasileira nacional autóctone, centrada no
"barroco mineiro". Aleijadinho, arquiteto e escultor da era colonial,
tornou-se uma figura emblemática dessa arte, representando a mestiçagem e
criatividade brasileira.
Debates Contemporâneos e
Metodologias de Análise
O artigo insere a produção
historiográfica do barroco nos debates críticos contemporâneos, questionando
noções eurocêntricas e explorando novas metodologias de análise. Os autores
discutem como as traduções dos textos de Wölfflin influenciaram a produção
literária e científica no Brasil, ampliando a definição do barroco para incluir
características culturais, políticas e sociais.
Hannah Levy é destacada como uma
figura chave no desenvolvimento de novas abordagens para a análise da arte
colonial, criticando metodologias tradicionais e propondo uma perspectiva que
integra sociologia da arte e crítica pós-colonial. Levy argumenta que uma obra
de arte colonial possui valores históricos, artísticos e de documentação que
devem ser analisados de maneira relativa, considerando seu contexto cultural e
histórico.
Exposições e Reinvenção
do Barroco
O artigo examina o impacto de
exposições e iniciativas culturais que reforçaram a ideia do barroco como um
elemento distintivo da cultura brasileira. Eventos como a exposição no
Guggenheim Museum em Nova York e outras mostras no Brasil desempenharam um papel
crucial na reafirmação do barroco como uma expressão artística vital.
Essas exposições destacaram aspectos
como o sincretismo dos artefatos religiosos, a conexão com o modernismo e as
ressonâncias na arte popular, indígena e africana. A representação do barroco
foi reavaliada e recontextualizada, enfatizando sua singularidade e relevância
para a identidade cultural brasileira.
Conclusão: Integração de
Abordagens Teóricas
Os autores concluem que a
historiografia da arte no Brasil deve integrar abordagens críticas e
pós-coloniais para compreender melhor as influências locais e globais na arte
colonial e barroca. Destacam a importância de ressignificar o barroco como
parte da identidade cultural nacional, reconhecendo sua complexidade e
capacidade de adaptação a diferentes contextos.
A obra sugere que uma análise mais
crítica e diferenciada é necessária para distinguir entre arte colonial e
barroco, reconhecendo as contribuições únicas de cada estilo para a formação da
cultura brasileira. A integração de diversas abordagens teóricas pode
enriquecer a compreensão dessas interações culturais e históricas.
Autores Citados e Suas
Contribuições
O artigo cita vários autores e suas
contribuições para o estudo do barroco e da arte colonial:
- Heinrich
Wölfflin: Sua teoria sobre o barroco como
categoria estilística influenciou a percepção do barroco como uma
expressão artística legítima.
- Germain
Bazin: Contribuiu para a síntese da produção artística
barroca no Brasil, focando na arquitetura e no patrimônio cultural.
- Hannah
Levy: Introduziu conceitos do barroco no Brasil,
criticando abordagens eurocêntricas e propondo novas metodologias para a
análise da arte colonial.
- Walter
Benjamin: Relacionou o barroco à alegoria,
influenciando interpretações modernas do estilo.
- Omar
Calabrese: Desenvolveu o conceito de
neobarroco, conectando o barroco ao mundo contemporâneo.
- Mário
de Andrade: Explorou o barroco como elemento da
brasilidade, contribuindo para a construção de uma identidade cultural
nacional.
Estrutura Argumentativa
do Texto
O artigo é estruturado de forma a
apresentar uma análise crítica da produção historiográfica sobre o barroco no
Brasil. Começa com uma introdução ao conceito de barroco e sua evolução
histórica, explorando como ele se confunde com a arte colonial. Em seguida, os
autores discutem a importância do barroco na formação da identidade cultural
brasileira, destacando figuras-chave como Aleijadinho.
A argumentação se desenvolve através
da revisão de teorias e abordagens críticas, incluindo a influência de Wölfflin
e a contribuição de intelectuais brasileiros. O texto também examina o impacto
de exposições e iniciativas culturais na promoção do barroco como elemento
central da arte brasileira.
Por fim, o artigo conclui com uma
reflexão sobre a necessidade de integrar abordagens teóricas diversas para uma
compreensão mais completa do barroco e da arte colonial no Brasil, considerando
o contexto global e as interações culturais que moldaram essa produção
artística.
O artigo "O Barroco colonizador:
a produção historiográfico-artística no Brasil e suas principais orientações
teóricas" pode ser entendido como uma convocatória a uma "rebelião
epistemológica" em várias formas, ao desafiar e reavaliar as abordagens
tradicionais da historiografia da arte e ao promover a inclusão de perspectivas
anteriormente marginalizadas. A seguir, alguns aspectos que sustentam essa
interpretação:
1. Questionamento do
Eurocentrismo
O artigo critica a predominância de
perspectivas eurocêntricas na historiografia da arte, que frequentemente
marginalizam as produções artísticas fora do cânone ocidental. Ao abordar a
arte colonial e o barroco brasileiro, o texto convoca uma reavaliação das
categorias históricas e estilísticas tradicionais, pedindo por uma análise que
respeite a singularidade e a complexidade cultural da arte brasileira.
2. Integração de
Abordagens Pós-Coloniais
Ao enfatizar a influência dos
discursos pós-modernos e pós-coloniais, o artigo promove uma nova forma de
olhar para a arte que desafia as interpretações estabelecidas. Essa perspectiva
pós-colonial busca reconfigurar o entendimento da arte colonial como uma
interação dinâmica entre culturas, em vez de um mero reflexo das tradições
europeias.
3. Valorização da
Identidade Cultural Brasileira
O texto defende a importância de
reconhecer o barroco como uma expressão legítima e central da identidade
cultural brasileira, contrastando com visões que o desconsideravam como
imitação degenerada do barroco europeu. Isso representa uma forma de
"rebelião" contra a imposição de valores estéticos estrangeiros,
propondo uma valorização da história e cultura locais.
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