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terça-feira, 13 de agosto de 2024

"O Barroco colonizador: a produção historiográfico-artística no Brasil e suas principais orientações teóricas"

Jens Baumgarten e André Tavares

O artigo "O Barroco colonizador: a produção historiográfico-artística no Brasil e suas principais orientações teóricas", de Jens Baumgarten e André Tavares, oferece uma análise aprofundada sobre a complexidade das interações entre a arte colonial e o barroco no Brasil. A obra destaca a evolução dos conceitos e práticas associadas ao barroco e à arte colonial, explorando suas implicações teóricas e metodológicas na historiografia da arte brasileira.

Introdução ao Barroco e à Arte Colonial no Brasil

No início do artigo, os autores destacam que os discursos pós-modernos e pós-coloniais abriram novos espaços para publicações de áreas geográficas que por muito tempo foram consideradas secundárias na historiografia europeia e norte-americana. Essa mudança permitiu que objetos produzidos fora do cânone ocidental, como a arte colonial brasileira, fossem integrados em uma história da arte mundial. A partir desse cenário, o artigo busca repensar as consequências teóricas e metodológicas para a arte colonial, ou a chamada arte barroca, no Brasil.

O termo "barroco" é explorado desde suas origens, destacando como ele começou a ser utilizado no final do século XIX e se transformou em um conceito importante com as publicações de autores como Cornelius Gurlitt e Heinrich Wölfflin. Tradicionalmente, o período barroco é situado entre os séculos XVI e XVIII, e o artigo enfatiza que o barroco não deve ser visto apenas como um fenômeno histórico, mas também como uma construção historiográfica que abrange história da arte e literatura.

Análise Crítica e Revisão Historiográfica

Os autores discutem a classificação pejorativa inicial do barroco como "degenerescência" por Jacob Burckhardt e como essa percepção foi desafiada e reformulada ao longo dos anos. Enquanto Wölfflin o classificou como uma categoria estilística, outros, como Walter Benjamin, o interpretaram como alegoria, e Germain Bazin o relacionou ao desejo contemporâneo através do conceito de neobarroco, proposto por Omar Calabrese.

No contexto brasileiro, o barroco foi mais discutido na teoria e crítica literária, destacando debates entre intelectuais como Haroldo de Campos e João Adolfo Hansen. A partir da década de 1920, com o modernismo, o barroco ganhou importância na construção da identidade cultural brasileira, sendo reinterpretado e adotado como parte da brasilidade.

O artigo também menciona o papel crucial de Mário de Andrade e outros modernistas, que viajaram a Minas Gerais e desenvolveram o conceito de uma arte brasileira nacional autóctone, centrada no "barroco mineiro". Aleijadinho, arquiteto e escultor da era colonial, tornou-se uma figura emblemática dessa arte, representando a mestiçagem e criatividade brasileira.

Debates Contemporâneos e Metodologias de Análise

O artigo insere a produção historiográfica do barroco nos debates críticos contemporâneos, questionando noções eurocêntricas e explorando novas metodologias de análise. Os autores discutem como as traduções dos textos de Wölfflin influenciaram a produção literária e científica no Brasil, ampliando a definição do barroco para incluir características culturais, políticas e sociais.

Hannah Levy é destacada como uma figura chave no desenvolvimento de novas abordagens para a análise da arte colonial, criticando metodologias tradicionais e propondo uma perspectiva que integra sociologia da arte e crítica pós-colonial. Levy argumenta que uma obra de arte colonial possui valores históricos, artísticos e de documentação que devem ser analisados de maneira relativa, considerando seu contexto cultural e histórico.

Exposições e Reinvenção do Barroco

O artigo examina o impacto de exposições e iniciativas culturais que reforçaram a ideia do barroco como um elemento distintivo da cultura brasileira. Eventos como a exposição no Guggenheim Museum em Nova York e outras mostras no Brasil desempenharam um papel crucial na reafirmação do barroco como uma expressão artística vital.

Essas exposições destacaram aspectos como o sincretismo dos artefatos religiosos, a conexão com o modernismo e as ressonâncias na arte popular, indígena e africana. A representação do barroco foi reavaliada e recontextualizada, enfatizando sua singularidade e relevância para a identidade cultural brasileira.

Conclusão: Integração de Abordagens Teóricas

Os autores concluem que a historiografia da arte no Brasil deve integrar abordagens críticas e pós-coloniais para compreender melhor as influências locais e globais na arte colonial e barroca. Destacam a importância de ressignificar o barroco como parte da identidade cultural nacional, reconhecendo sua complexidade e capacidade de adaptação a diferentes contextos.

A obra sugere que uma análise mais crítica e diferenciada é necessária para distinguir entre arte colonial e barroco, reconhecendo as contribuições únicas de cada estilo para a formação da cultura brasileira. A integração de diversas abordagens teóricas pode enriquecer a compreensão dessas interações culturais e históricas.

Autores Citados e Suas Contribuições

O artigo cita vários autores e suas contribuições para o estudo do barroco e da arte colonial:

  • Heinrich Wölfflin: Sua teoria sobre o barroco como categoria estilística influenciou a percepção do barroco como uma expressão artística legítima.
  • Germain Bazin: Contribuiu para a síntese da produção artística barroca no Brasil, focando na arquitetura e no patrimônio cultural.
  • Hannah Levy: Introduziu conceitos do barroco no Brasil, criticando abordagens eurocêntricas e propondo novas metodologias para a análise da arte colonial.
  • Walter Benjamin: Relacionou o barroco à alegoria, influenciando interpretações modernas do estilo.
  • Omar Calabrese: Desenvolveu o conceito de neobarroco, conectando o barroco ao mundo contemporâneo.
  • Mário de Andrade: Explorou o barroco como elemento da brasilidade, contribuindo para a construção de uma identidade cultural nacional.

Estrutura Argumentativa do Texto

O artigo é estruturado de forma a apresentar uma análise crítica da produção historiográfica sobre o barroco no Brasil. Começa com uma introdução ao conceito de barroco e sua evolução histórica, explorando como ele se confunde com a arte colonial. Em seguida, os autores discutem a importância do barroco na formação da identidade cultural brasileira, destacando figuras-chave como Aleijadinho.

A argumentação se desenvolve através da revisão de teorias e abordagens críticas, incluindo a influência de Wölfflin e a contribuição de intelectuais brasileiros. O texto também examina o impacto de exposições e iniciativas culturais na promoção do barroco como elemento central da arte brasileira.

Por fim, o artigo conclui com uma reflexão sobre a necessidade de integrar abordagens teóricas diversas para uma compreensão mais completa do barroco e da arte colonial no Brasil, considerando o contexto global e as interações culturais que moldaram essa produção artística.

 

O artigo "O Barroco colonizador: a produção historiográfico-artística no Brasil e suas principais orientações teóricas" pode ser entendido como uma convocatória a uma "rebelião epistemológica" em várias formas, ao desafiar e reavaliar as abordagens tradicionais da historiografia da arte e ao promover a inclusão de perspectivas anteriormente marginalizadas. A seguir, alguns aspectos que sustentam essa interpretação:

1. Questionamento do Eurocentrismo

O artigo critica a predominância de perspectivas eurocêntricas na historiografia da arte, que frequentemente marginalizam as produções artísticas fora do cânone ocidental. Ao abordar a arte colonial e o barroco brasileiro, o texto convoca uma reavaliação das categorias históricas e estilísticas tradicionais, pedindo por uma análise que respeite a singularidade e a complexidade cultural da arte brasileira.

2. Integração de Abordagens Pós-Coloniais

Ao enfatizar a influência dos discursos pós-modernos e pós-coloniais, o artigo promove uma nova forma de olhar para a arte que desafia as interpretações estabelecidas. Essa perspectiva pós-colonial busca reconfigurar o entendimento da arte colonial como uma interação dinâmica entre culturas, em vez de um mero reflexo das tradições europeias.

3. Valorização da Identidade Cultural Brasileira

O texto defende a importância de reconhecer o barroco como uma expressão legítima e central da identidade cultural brasileira, contrastando com visões que o desconsideravam como imitação degenerada do barroco europeu. Isso representa uma forma de "rebelião" contra a imposição de valores estéticos estrangeiros, propondo uma valorização da história e cultura locais.

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